Quarta-feira, 10 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 26 de dezembro de 2017
A Ambev, principal fabricante de cervejas do País, dona das marcas Brahma, Skol e Antarctica, vai estrear no mercado de leite. O investimento na nova categoria vai ocorrer com sua marca de sucos, a Do Bem, a partir de janeiro de 2018. A aposta da gigante de bebidas acontece em um momento em que o setor vive uma verdadeira disputa com nomes de peso como a Coca-Cola, que em abril de 2017 comprou a mineira Verde Campo, além da francesa Lactalis e a mexicana Lala, que adquiriram nos últimos meses marcas de peso do setor como Itambé e Vigor, pertencentes ao grupo JBS.
Porém, a estratégia da Ambev, que comprou a Do Bem em 2016, é dar uma nova leitura para o segmento do leite. Por isso, a multinacional investe em uma versão vegetal da bebida, feita a partir do coco. É diferente das outras empresas que produzem leite a partir da vaca. Mas, para Marcos Leta, fundador da marca Do Bem, o sabor do novo produto será próximo ao leite tradicional, já que foram utilizadas tecnologias e blends específicos de fruta para deixar o sabor mais neutro.
O novo produto da Ambev terá fornecedores de coco da Bahia e do Ceará, os mesmos que já produzem a água de coco para a multinacional. Depois disso, a bebida é envazada nas linhas de produção no interior de São Paulo, como na unidade de Jaguariuna, onde a Ambev produz suas cervejas. Mas a ideia é transferir o envaze para a futura fábrica da companhia, em Cachoeiras de Macacu, no interior do Rio. A unidade foi comprada pela Ambev da Brasil Kirin em 2016. Ainda não há previsão de quando isso possa ocorrer.
“Começamos a pesquisar novas categorias de produtos no início do ano. Há um movimento das pessoas de busca por uma alimentação alternativa, sem glúten e lactose. Há procura por ingredientes naturais. O leite de vaca precisa ser atualizado. Por isso, investimentos numa versão vegetal. A ideia é que o produto feito a partir do coco substitua o feito de forma tradicional. Um desafio de leites feitos a partir do arroz, castanhas e coco é o sabor, que fica muito característico por conta de sua matéria-prima. Então, desenvolvemos um produto com sabor perto do original”, explicou Leta.
Com lançamento previsto para o dia 6 de janeiro, a Ambev vai lançar quatro versões de leite: além do sabor original, haverá ainda as versões de baunilha, chocolate e café com leite. Serão comercializadas versões de 1 litro.
Desde que foi adquirida pela Ambev, a Do Bem ampliou o ritmo de lançamentos de seus produtos – hoje já são mais de 30 itens, como barras de cereal e mate – e ainda ganhou novos mercados. A marca chega no fim deste ano a dez mil novos pontos de venda espalhados por 10 estados de todas as regiões.
“Depois do carnaval, vamos lançar versões menores para os consumidores. Começaremos as vendas dos novos produtos no Rio e, através das redes varejistas, ampliar a distribuição para São Paulo e regiões Sul e Centro-Oeste”, destacou Leta, lembrando que o preço vai oscilar entre 12,99 reais e 13,99 reais.
O consultor Flavio Pessoa, professor do Ibmec, lembrou que a estratégia da Ambev é buscar uma diferenciação no mercado, que já tem dezenas de marcas bem avaliadas pelos consumidores.
“Se a companhia entrasse com leite tradicional, o esforço de marca teria de ser maior. Mas, como vem com um produto feito com outros ingredientes, consegue disputar uma parcela importante dos consumidores e ter uma margem maior, já que o preço do litro leite tradicional sai entre R$ 3 e R$ 4. E, com a entrada de novos competidores no mercado, como a Lactalis e a Lala, vamos ter com certeza uma guerra ainda maior de preços”, afirmou ele.
O apetite pelo segmento pode ser acompanhado pelas negociações envolvendo a venda da Vigor, que pertencia ao Grupo JBS, um dos ativos mais disputados pela companhia dos irmãos Batista. Em outubro, a mexicana Lala fez uma proposta para comprar a Vigor, que também era dona de 50% da Itambé. Como, durante o processo de negociação, a Itambé ficou de fora da transação, a Lala pagou US$ 4,325 bilhões pela aquisição do negócio.
Por outro lado, a francesa Lactalis, dona da Parmalat, Batavo e Elegê, acabou negociando com a Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais, que exerceu seu direito de preferência ao comprar os outros 50% da Itambé que pertenciam à Vigor.
“Isso mostra como o setor de leite é disputado no Brasil. O faturamento do mercado de lácteos é estimado em cerca de R$ 60 bilhões por ano. Por isso, é altamente disputado pelas grandes companhias de bebidas, como a Coca-Cola, que comprou recentemente uma empresa. É preciso ampliar o portfólio de produtos, além de cerveja, suco e refrigerantes, sobretudo, na busca de itens mais saudáveis”, lembrou Pessoa.