Brasil Amigo próximo do presidente da República, o Coronel Lima dava conselhos até sobre a sua aparência. “Melhore o seu semblante”, disse ele a Michel Temer durante um evento em Brasília
Por Redação O Sul | 23 de abril de 2018
No dia 7 de setembro de 2015, o então vice-presidente Michel Temer recebeu um conselho: “Michel, melhore o seu semblante”. Aborrecido, ele havia subido ao palanque da tradicional parada militar de Brasília, pela manhã, ao lado da ainda titular Dilma Rousseff.
A recomendação – enviada por mensagem de texto entre telefones celulares – não partia de nenhum marqueteiro ou personal stylist, mas do coronel reformado da PM (Polícia Militar) paulista João Baptista Lima Filho. Às 10h49min, menos de dez minutos depois do torpedo, o vice reconheceu: “Eu deveria usar óculos escuros”. Veio em seguida um “OK” do coronel.
O clima já era de tensão entre a chefe da nação, que viria a sofrer um processo de impeachment a partir de dezembro, apoiado pelo PMDB (hoje MDB). Semanas antes, Temer havia deixado a articulação política do governo com o Congresso Nacional e, mesmo após insistência da petista, negara-se a retomar o posto.
Intimidade
Trechos dessas e outras mensagens foram recuperados pela PF (Polícia Federal) e constam do inquérito sobre o suposto esquema de corrupção envolvendo Temer, seu circuito de amigos e empresas portuárias. E elas revelam o grau de intimidade entre o agora presidente e o policial militar aposentado.
Atualmente suspeito de prestar serviços ilícitos a Temer, Lima chegou a ser preso temporariamente em 29 de março deste ano, na Operação Skala, porém acabou solto menos de dois dias depois, deixando a carceragem da PF sem prestar depoimento sobre as relações suspeitas com o presidente e representantes do setor privado.
Amigo de Temer há mais de 30 anos, Lima atua como seu auxiliar informal, tendo o ajudado em campanhas eleitorais e na interlocução com empresários. Essa relação começou quando o presidente foi secretário de Segurança Pública do Estado São Paulo, entre 1984 e 1993, e o coronel o assessorava.
A arquiteta Maria Rita Fratezi, mulher de Lima, foi apontada por um fornecedor de material de construção como a responsável por pagar, em dinheiro-vivo, despesas de uma obra na casa de Maristela Temer, uma das filhas de Temer, em São Paulo.
Na mesma época, a Argeplan Arquitetura e Engenharia, que atualmente tem Lima como sócio, fechou contratos de consultoria com a pasta. A partir de 2011, quando Temer assumiu a Vice-Presidência, o coronel virou cotista da empresa, que passou a receber recursos de obras federais.
Apesar da proximidade, os relatórios da PF registram esparsas comunicações entre os dois, como a daquele Sete de Setembro. Entre setembro de 2015 e 18 de maio de 2017 (dia da operação Patmos, na qual foi apreendido o celular do coronel), eles trocaram 12 telefonemas, alguns em momentos relevantes da biografia de Temer.
O presidente ligou duas vezes para o amigo, por exemplo, em 14 de maio de 2016, dois dias após Dilma ser provisoriamente afastada pelo Senado – decisão confirmada em agosto daquele ano. Alguns contatos indicam não só alguma intimidade, mas o papel de Lima como intermediário de interesses de empresários no Executivo.
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