Quinta-feira, 19 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 10 de abril de 2025
Com dificuldades de obter as 257 assinaturas necessárias para protocolar o requerimento de urgência do projeto de anistia aos envolvidos na trama golpista, setores do PL de Jair Bolsonaro avaliam que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), está sendo pressionado pelo presidente Lula e o Supremo Tribunal Federal (STF) a não pautar o assunto no plenário. Na leitura de integrantes da bancada e interlocutores da cúpula do partido, a viagem de Motta à Ásia ao lado do petista serviu para intensificar a ofensiva.
A preocupação com a virada de Motta levou Bolsonaro a se reunir com ele na quarta-feira (9) em Brasília.
O presidente da Câmara integrou a comitiva presidencial na semana passada e, no retorno ao Brasil, endureceu o tom sobre a anistia. Falando no dia seguinte à manifestação pela anistia convocada por Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia na Avenida Paulista, em São Paulo, Motta foi taxativo ao dizer que não vai pautar o projeto porque ele “aumentaria a crise institucional” que o Brasil, na sua visão, “já vive”.
Durante o protesto, Malafaia chamou Motta de “vergonha da Paraíba”. Já o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), que lidera o recolhimento de assinaturas, ameaçou expor deputados que não aderirem ao requerimento de urgência, o que provocou desconforto no Centrão.
Em resposta, o presidente da Câmara criticou indiretamente a iniciativa de anistiar todos os envolvidos no 8 de janeiro.
“Não contem com esse presidente para agravar uma situação do país que já não é tão boa. Vamos enfrentar com cautela, com o pé no chão, mas com esses dois pontos, sensibilidade e responsabilidade, para que o Brasil possa sair mais forte”, disparou.
É um tom bem diferente do adotado pelo próprio Hugo Motta pouco após sua posse à frente da Câmara, no início de fevereiro. Na ocasião, o político paraibano chegou a declarar à rádio Arapuan FM, de João Pessoa (PB), que o 8 de janeiro não foi uma tentativa de golpe contra o presidente Lula.
Ecoando a narrativa bolsonarista, se disse contra “exagero” nas punições aos golpistas em sentenças do Supremo Tribunal Federal (STF). Três dias antes, em entrevista ao programa “Estúdio i” da GloboNews, também afirmou que era favorável à discussão da anistia.
“Com toda a responsabilidade, nós vamos tratar esse tema [anistia] de maneira muito tranquila, de maneira muito serena, para que esse tema não seja mais um fator para aumentar o tensionamento que existe, que existe hoje entre os poderes, entre o Judiciário, o Legislativo e o poder Executivo”, afirmou na ocasião.
Sempre sob anonimato, por receio de melindrar o presidente da Câmara e enterrar de vez os esforços da anistia, deputados e interlocutores do PL atribuem a mudança de discurso à suposta pressão que Lula e o Supremo estariam exercendo sobre Motta.
Um exemplo seria a operação Outside da Polícia Federal (PF), que apura suspeitas de fraude em licitação, sobrepreço e desvio de recursos públicos federais encaminhados à cidade de Patos (PB), comandada pelo pai de Motta, Nabor Wanderley, também filiado ao Republicanos.
Bolsonaristas veem “digitais” do PT na condução do caso pela PF, embora nem Wanderley e nem Motta sejam formalmente investigados no caso. Também não passou despercebido que, nos últimos dias, o político tenha priorizado pautas de interesse do Judiciário – incluindo quatro projetos de autoria do STF e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que foram pautados imediatamente após a aprovação do requerimento de urgência.
Os textos, que tratavam sobre a criação de novas vagas de juiz federal, varas federais, cargos comissionados e entre outras medidas administrativas, tiveram os pedidos de urgência liderados por Gilberto Abramo (Republicanos-MG), líder do partido de Motta na Casa.
Aliados de Bolsonaro também avaliam que as duras críticas do decano do Supremo, Gilmar Mendes, à anistia, em entrevista à GloboNews na última terça-feira, também fazem parte da tentativa de emparedá-lo.
Os bolsonaristas também afirmam que, para se cacifar como único candidato viável à sucessão de Arthur Lira (PP-AL), Motta fez acordos contraditórios com o PT e o PL em relação à anistia aos golpistas.
“Ele se comprometeu com o PT que não pautaria e garantiu ao PL que colocaria para votar. Ganhou a eleição e agora está com esse abacaxi na mão”, resumiu um aliado de Valdemar Costa Neto. “Motta deve ter sido moído nessa viagem ao Japão”.
Aposta em virada
Apesar da reticência, um importante articulador da bancada do PL acredita que, uma vez que o patamar das 257 adesões ao requerimento de urgência seja atingida, a pressão sobre o político paraibano aumentará consideravelmente – a prerrogativa de pautar projetos sob essas condições é exclusiva do dirigente da Câmara, independente da amplitude de apoios.
“Motta está super pressionado pelo Supremo e pelo governo. Quando atingirmos o número de assinaturas, será que ele vai ficar contra a maioria da Câmara?”. As informações são do jornal O Globo.