Quarta-feira, 01 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de setembro de 2025
A proposta de anistia atravessa seu momento mais delicado desde que começou a ser discutida na Câmara dos Deputados. Enfrenta resistência aberta no Senado e está cada vez mais fragilizada pelas disputas internas entre os dois lados do Congresso.
Um dos focos da crise é o incômodo do presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União-AP). O senador não esconde a insatisfação com a decisão de Hugo Motta (Republicanos-PB) de levar adiante um texto próprio da Câmara, rompendo o acordo inicial que previa a tramitação do projeto construído pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A versão de Pacheco preservava a pena de Jair Bolsonaro, mantendo o ex-presidente fora do alcance da anistia. A escolha de Motta, ao atropelar esse arranjo, abriu um atrito direto com Alcolumbre, que passou a enxergar a movimentação como uma afronta à liderança do Senado.
Nos bastidores, aliados de Alcolumbre afirmam que o desconforto é real e que o presidente da Casa não pretende dar fluidez a uma pauta tão polêmica. Para eles, a quebra do entendimento agrava ainda mais a percepção de que a anistia irrestrita teria repercussões negativas para a imagem institucional do Senado.
Outro ponto que pesa contra a proposta é o calendário legislativo. Se a votação da isenção do imposto de renda ocorrer antes da anistia, o Centrão perderá sua principal carta de chantagem contra o governo: a ameaça de avançar com uma anistia ampla caso o Palácio do Planalto não cedesse em pontos sensíveis, como a taxação dos super-ricos ou mesmo a suspensão temporária dos efeitos dessa cobrança na proposta de isenção para rendas de até R$ 5 mil. Essa era a principal ferramenta de pressão que sustentava a pauta dentro da Câmara.
Adiada para depois da votação do imposto de renda, a anistia tende a perder ainda mais relevância. Sem a lógica de barganha, cresce a avaliação de que o Centrão terá pouco interesse em insistir em um tema que gera desgaste público elevado e reduzido retorno político. A consequência é que a proposta pode se transformar em um debate periférico, sem força para conquistar maiorias consistentes.
Além da resistência de Alcolumbre, outro ponto de entrave decisivo é a atuação de Renan Calheiros (MDB-AL). O senador já se manifestou publicamente contra a proposta e deve mobilizar o MDB em peso contra a anistia no Senado. Renan afirmou: “Sou contra a anistia porque ela é inconstitucional e porque os anistiados de ontem são os golpistas de hoje, e os anistiados de hoje serão os golpistas de amanhã. Igualmente, voto contra qualquer proposta envolvendo dosimetria. Esta é uma competência da Justiça.”
Hoje, a leitura predominante é de que a anistia respira por aparelhos. A resistência firme do Senado, a irritação de Davi Alcolumbre, a mobilização de Renan Calheiros e o esvaziamento do poder de pressão do Centrão se somam e deixam o projeto em uma posição vulnerável. Mesmo entre defensores da medida, cresce a sensação de que a pauta perdeu o fôlego político e só sobreviverá caso haja uma reconfiguração profunda das alianças entre Câmara e Senado. (Com informações do portal ICL Notícias)