Domingo, 28 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 16 de setembro de 2025
Interlocutores de Hugo Motta dizem que a proposta da oposição se tornou um tema impopular e mal visto pela sociedade.
Foto: Kayo Magalhães/Ag. CâmaraApós a condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, aliados do ex-presidente aumentaram a mobilização pela votação de uma anistia, mas há obstáculos políticos para que um “perdão amplo” seja concedido. Pessoas próximas ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), dizem que a proposta de preferência da oposição se tornou um tema impopular e mal visto pela sociedade.
Esses mesmos interlocutores avaliam que não há votos para uma espécie de “liberou gerou”, embora a elaboração de uma alternativa mais branda, que mantenha a inelegibilidade do próprio Bolsonaro, tenha mais chance de prosperar entre deputados ou senadores.
Na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu Motta para um almoço no Palácio da Alvorada, ocasião em que reforçou sua posição para que a Câmara não vote o projeto de anistia. Nos últimos dias, o deputado também tem manifestado a intenção de evitar um confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF), que vê o perdão total como inconstitucional.
Na Casa ao lado, o presidente Davi Alcolumbre (União-AP) debate um texto que altera o Código Penal e, com isso, diminui as penas de envolvidos no 8/1 e, por consequência, na trama golpista. O projeto foca nos crimes de tentativa de golpe e abolição do Estado Democrático de Direito.
Ao mesmo tempo em que buscam contornar resistências em diferentes partidos, bolsonaristas enfrentam um mal-estar interno desde o sábado, quando o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, admitiu a existência da tentativa de golpe — assunto que foi objeto de julgamento pelo STF. Diante da repercussão da fala, o dirigente partidário resolveu recuar na segunda-feira e negar o próprio discurso.
Em meio ao ambiente tumultuado, dirigentes do PL já receberam a sinalização de que Motta resiste a uma anistia ampla. O deputado tem repetido que não há clima na Casa. Um interlocutor próximo ao parlamentar reforçou que a ideia é “pacificar o país”, mas que o caminho não passa por uma anistia irrestrita. Em paralelo, parte dos líderes da Câmara defende que a anistia entre na pauta de hoje. Até entre os governistas, há quem diga que a proposta deveria ter a urgência votada em plenário para ser derrotada de uma vez.
O Datafolha aponta que mais da metade dos brasileiros é contra a aprovação de uma anistia que favoreça Bolsonaro: 54% rejeitam a ideia, enquanto 39% a defendem.
Interlocutores de Motta dizem, inclusive, que o apoio à anistia tem prejudicado politicamente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que intensificou articulações a favor do projeto. O governador é estimulado por partidos do Centrão a dar sinalizações a Bolsonaro.
O objetivo desses partidos é ter o aval do ex-presidente para que Tarcísio seja candidato. Apesar disso, as negociações encabeçadas por PP e União Brasil incluem uma anistia diferente daquela almejada por bolsonaristas, que querem a recuperação da elegibilidade de Bolsonaro.