Segunda-feira, 24 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 23 de novembro de 2025
O Banco Central (BC) tinha duas preocupações imediatas no caso do Banco Master: evitar a quebra do Banco de Brasília (BRB), após descobrir, no início do ano, que ele vinha comprando bilhões em “títulos podres” do Master, e evitar que uma provável liquidação do banco privado levasse a questionamentos jurídicos que virassem indenização bilionária a ser paga pela União.
No jargão financeiro, ó adjetivo “podre” se aplica ao título com alto risco de não ser pago, com pagamento duvidoso. São frequentemente negociados com grande deságio (desconto) e, em muitos casos, são considerados especulativos.
A estratégia foi obrigar os controladores do Master a fazer aportes no banco, que seriam redirecionados para cobrir o rombo do BRB, e aguardar as investigações da Polícia Federal que poderiam levar a uma eventual prisão do banqueiro Daniel Vorcaro.
Em paralelo, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) abriria uma linha de R$ 4 bilhões para o Master, mas com a condição de que, para cada real emprestado, os donos do Master fizessem aportes na mesma proporção.
Por isso, a prisão do dono do Master e a liquidação da empresa aconteceram no mesmo dia, mas após meses de investigações e transfusões de recursos do Master para o BRB. A decisão judicial que levou Daniel Vorcaro para trás das grades também significou o fim dos aportes e o fim da linha do FGC para o Master. Assim, o BC poderia decretar a liquidação do Master, mas agora com forte sustentação e amparo legal.
Caso similar
Um exemplo citado por técnicos do Banco Central é a liquidação do Banco Ipiranga, na década de 1970. Hoje, advogados tentam no Superior Tribunal de Justiça (STJ) receber uma indenização bilionária da União, porque alegam que o Ipiranga foi liquidado quando ainda poderia ter vendido ativos e se mantido de pé. Uma das preocupações era evitar a repetição de um cenário como esse.
O BRB ainda é motivo de atenção no sistema financeiro. O banco estatal conseguiu recuperar os R$ 12 bilhões das carteiras podres que comprou do Master, mas cerca de R$ 3 bilhões vieram de aportes dos controladores do Master e R$ 9 bilhões de ativos do banco, como carteiras de crédito e imóveis que foram reavaliados. O BRB diz, por nota, que permanece sólido.
O risco é que esses ativos “não performem”, como se diz no jargão do mercado financeiro, o que pode exigir aportes do acionista controlador – no caso, o governo do Distrito Federal. Por isso, o BC continuará acompanhando com lupa cada passo do Banco de Brasília, que já foi proibido de comprar carteiras de crédito de outras instituições financeiras.
Renato Gomes, indicado por Bolsonaro, e Ailton de Aquino, indicado por Lula, foram os diretores que destrincharam esse emaranhado técnico e que se desenrolou pelos últimos 11 meses. Com amparo legal, eles suportaram as pressões políticas de Brasília, que incluíram a tentativa do Congresso de aprovar um projeto que diminuiria a independência do BC. (com informações de O Estado de S. Paulo)