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Cinema “Apolo”, filme que retrata a gestação de um casal de pessoas trans chega aos cinemas: “Um presente do entendimento”

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Cena de “Apolo”, documentário que acompanha a gravidez de um casal trans. (Foto: Reprodução)

Lourenzo Duvale viu Isis Broken pela primeira vez em uma tela de celular, no auge da pandemia de covid-19. Ele, rapper em São Paulo, compartilhava suas músicas e reflexões nas redes. Ela, cantora, trabalhava no disco “Bruxa Cangaceira” em Sergipe. Bastou uma mensagem – “como está a sua noite?” – para que os dois atravessassem a madrugada conversando sobre música, espiritualidade e política. Poucas semanas depois, ela comprou uma passagem, e a história de “Apolo” começou a ser escrita.

Dirigido por Tainá Müller e Isis Broken, o documentário chegou aos cinemas no fim do mês passado, depois de ser premiado no Festival do Rio (Melhor Documentário e Trilha Sonora Original) e no Festival MixBrasil (Melhor Filme pelo júri popular e menção honrosa do júri oficial). “Apolo” acompanha a gravidez carregada por Lourenzo, homem trans, e vivida ao lado de Isis, mulher trans e mãe da criança que dá nome ao filme. Expõe, assim, as transfobias institucionais enfrentadas por parentalidades trans no Brasil, ao mesmo tempo em que se revela um registro histórico e uma carta de amor ao filho.

A seguir, Isis e Lourenzo falam sobre os bastidores da gestação, as violências e acolhimentos encontrados no SUS – e o legado que esperam deixar para o filho e para o público.

– Como foi receber a notícia da gestação? Lourenzo, você já tinha se imaginado pai, gerando uma vida dentro de você? Isis, já tinha se imaginado mãe?

– Lourenzo: “Na verdade, nunca tinha pensado nessa possibilidade. Eu achava que homens trans, quando tomavam testosterona, ficavam estéreis. É um mito que rola na comunidade. Foi bem assustador. Eu tinha vontade de ser pai, mas não sabia como isso ia acontecer. A primeira coisa que me bateu foi um surto de disforia, porque eu já me hormonizava há três anos, e sabia que, com a gestação, precisaria parar.

– Isis: “Eu nunca pensei em ser mãe. Acho que porque não existe referência de uma mãe travesti. Eu acreditava que LGBTs não poderiam se reproduzir. É um discurso que a gente ouve desde cedo, mas o Apolo mostra que esse discurso cai por terra.

– Quais foram as principais barreiras no pré-natal?

– Lourenzo: “Muita coisa não se mostrou no filme, justamente porque a intenção não era só falar sobre violência. Logo no começo da gestação, por exemplo, fui ao hospital por causa de um sangramento, e me chamaram em todos os cantos pelo nome morto. A médica fez um exame ginecológico super invasivo, desnecessário de toque, e eu saí sem resultado. Também não consegui fazer o ultrassom morfológico. No único lugar que toparam marcar, o médico foi transfóbico: mandou eu deitar na maca e ‘tirar a calcinha’. No sistema, não existia a opção de um homem fazer pré-natal, então mudaram meu gênero para feminino para liberar a consulta. Era sempre essa tentativa de me enquadrar biologicamente, como se meu corpo estivesse errado. Alguns artistas como Maya Massafera, Bruno Gagliasso e Nanda Costa se ofereceram para nos ajudar a pagar o particular, mas as clínicas achavam que era trote: ‘um homem grávido, como assim?’ Então percebemos que, no SUS ou no particular, a transfobia ia aparecer. Preferimos ficar no SUS para tentar transformar o sistema, e porque em São Paulo conseguimos atendimento melhor no Ambulatório Trans da UBS Santa Cecília.”

– Isis: “Na clínica, chegaram a me dizer: ‘Já que você é mulher, me mostra a sua vagina’. Eles queriam que a gente provasse de forma biológica; era uma transfobia sistematizada. Falavam: ‘Não é culpa nossa, é culpa do sistema’. Quando saímos da maternidade com o Apolo, me chamaram de pai.

– Em algum momento vocês foram bem acolhidos?

– Lourenzo: “Só quando conhecemos o Dr. Emmanuel, no ambulatório trans da UBS Santa Cecília, em São Paulo. Ele mudou tudo para mim, me sinto confortável. Ele explica o que está acontecendo com meu corpo, não é aquele médico que nem olha na tua cara e só receita hormônio. Dr. Emmanuel trata pessoas trans como deveria ser: com naturalidade, igual a uma pessoa cis. Ele faz o básico, mas por não termos o básico, acaba sendo extraordinário.

– Isis: “Aqui no Brasil, para nós (pessoas trans) termos um atendimento digno, precisamos ir a um lugar especializado em saúde de corpos trans. Isso também cria um lugar de exotificação, como se só pudéssemos receber atendimento nesses espaços. O SUS tem até uma frase ‘saúde para todos’. Para todos quem?”. As informações são do jornal O Globo.

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https://www.osul.com.br/apolo-filme-que-retrata-a-gestacao-de-um-casal-de-pessoas-trans-chega-aos-cinemas-um-presente-do-entendimento/ “Apolo”, filme que retrata a gestação de um casal de pessoas trans chega aos cinemas: “Um presente do entendimento” 2025-12-09
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