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Por Redação O Sul | 25 de maio de 2018
Principal liderança da greve que paralisa o País há cinco dias, a Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros) pediu à categoria que suspenda os bloqueios de rodovias. O argumento da entidade é o receio pela segurança dos trabalhadores do setor, após o anúncio do presidente Michel Temer, no início da tarde dessa sexta-feira, sobre a convocação das Forças Armadas para desobstruir as estradas.
“Já mostramos a nossa força ao governo federal, que nos intitulou como minoria. Conseguimos parar 25 Estados com mais de 504 interdições”, diz o presidente da Abcam, José da Fonseca Lopes, ressaltando que a entidade não assinou qualquer acordo com o poder público e que mantém o pedido de retirada do PIS/Cofins sobre o óleo diesel.
A Abcam representa cerca de 700 mil trabalhadores do setor com 600 sindicatos espalhados pelo Brasil, e é uma entre centenas de entidades que representam a categoria: “A culpa do caos que o País se encontra hoje é reflexo de uma manifestação tardia do próprio presidente, que esperou cinco dias de paralisações intensas da categoria”.
“Estamos desde outubro do ano passado na expectativa de sermos ouvidos pelo governo. Emitimos novo alerta no dia 14 de maio, uma semana antes de iniciarmos os protestos”, diz o dirigente em nota divulgada nesta sexta-feira.
Ele conclui, em seguida: “É lamentável saber que mesmo após tanto atraso, o presidente da República preferiu ameaçar os caminhoneiros por meio do uso das forças de segurança ao invés de atender às necessidades da categoria. Sendo assim, resta pedir a todos os companheiros que desobstruam as rodovias e respeitem o decreto presidencial”.
“Situação-limite”
A decisão do endurecer com o movimento e do emprego das Forças Armadas foi do próprio presidente Michel Temer, que entendeu que a situação “chegou ao limite”, que “o acordo assinado não foi cumprido” e que “a população não poderia continuar sofrendo com o desabastecimento”.
O presidente decidiu chamar para si a responsabilidade da ação porque considerou que já havia dado sinais de que queria diálogo, que não trouxe os resultados esperados, e que agora, era a hora de “mostrar autoridade”, ou “o Brasil entraria em colapso”.
A decisão de empregar forças federais ocorreu pouco depois das 11h, antes de Temer participar da reunião com os secretários de Fazenda, marcada para o mesmo horário, quando todos começariam a discutir a redução do ICMS no preço dos combustíveis.
A reunião de emergência começou às 10h, chamada pelo ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Sérgio Etchegoyen. Quando o encontro já estava em andamento, uma hora depois, com a avaliação de que havia ocorrido um sério agravamento da crise, Temer deixou o seu gabinete no terceiro andar e subiu para o quarto andar, onde a discussão estava acontecendo entre os ministros diretamente ligados ao tema.
O emedebista chegou e ouviu avaliação da situação. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, ponderou que era preciso que o governo agisse e rápido porque o problema estava em uma espiral crescente, que o desabastecimento era grave e que o problema já estava causando transtorno para as pessoas que usam gasolina.
Esse sentimento era unânime, assim como o reconhecimento da necessidade de ação federal. O presidente então afirmou que já tinha dado demonstrações de que quis dialogar, mas que o momento era de agir com energia. Durante as discussões, ponderou-se se os caminhoneiros haviam tido ou não tempo de desmobilização, de sair das estradas, e se o governo deveria dar um prazo para que isso acontecesse.
Temer, então avisou que não, que o diálogo já tinha sido feito, sem contrapartida. “Temos de mostrar autoridade senão o Brasil entra em colapso”, desabafou o presidente, que tem reiterado que não tem medo de agir e reagir. “Tudo tem limite”, afirmou ele, segundo um dos participantes do encontro.