Quarta-feira, 05 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 16 de agosto de 2020
Milton Ribeiro na cerimônia de posse como ministro da Educação.
Foto: Isac Nóbrega/Presidência da RepúblicaO ministro da Educação, Milton Ribeiro, completa um mês no cargo neste domingo (16), sem o barulho e as polêmicas do antecessor Abraham Weintraub, mas com uma lista de grandes desafios na educação brasileira diante da previsão de perder, em 2021, R$ 4,2 bilhões para sua área.
Quatro dias depois de sua posse, Ribeiro anunciou que estava com coronavírus e que trabalharia remotamente. Enquanto se tratava, declarou nas redes sociais que usava azitromicina, ivermectina e cloroquina – medicamentos sem eficácia comprovada e de adoção desaconselhada por diversos estudos. Afirmou que notou “diferença pra melhor de um dia pra outro”.
Ribeiro é o quarto titular do Ministério da Educação (MEC) em um ano e meio de mandato do presidente Jair Bolsonaro. Ele tem 62 anos, é teólogo e pastor da Igreja Presbiteriana. Sua nomeação para a pasta agradou a ala evangélica do governo.
No discurso de posse, disse que buscaria ter “compromisso com o Estado laico” e manter “grande diálogo com acadêmicos e educadores”.
“Conquanto tenho a formação religiosa, meu compromisso que assumo hoje está bem firmado e bem localizado em valores constitucionais da laicidade do Estado e do ensino público. Assim, Deus me ajude”, afirmou.
Apesar do início comedido, dois vídeos antigos com declarações de Milton Ribeiro foram motivo de discussão.
Em um deles, publicado no Youtube em 2016, ele afirma que é necessário ter rigor e severidade na educação das crianças – elas devem “sentir dor”, diz.
“A correção é necessária pela cura. Não vai ser obtida por meios justos e métodos suaves. Talvez aí uma porcentagem muito pequena de criança precoce, superdotada, é que vai entender o seu argumento. Deve haver rigor, desculpe. Severidade. E vou dar um passo a mais, talvez algumas mães até fiquem com raiva de mim, (as crianças) devem sentir dor”, declarou Ribeiro no vídeo.
Na cerimônia de posse, o novo ministro disse que nunca apoiou o uso de violência física na escola. “Nunca defenderei tal prática, que faz parte de um passado que não queremos de volta”, afirmou.
Em outro vídeo, de 2018, Ribeiro critica a conduta sexual da sociedade. Segundo ele, após a criação da pílula anticoncepcional, a maior liberdade fez com que o mundo perdesse a “referência do que é certo e errado”.
O pastor também critica o existencialismo – corrente filosófica surgida no pós-guerra que prega, entre outros valores, a liberdade de escolha. “Não importa se é A, B, se é homem ou se é mulher, se é velho, se é novo. Não interessa. O que interessa é aquele momento. E tem mais. Eles explicam assim: se for feito com amor, tudo vale”, diz.
“Se você tem um sexo com seu vizinho que é casado, com sua vizinha, mas com amor, então pronto, nenhuma dificuldade. Essa é nossa sociedade. É isso que eles estão ensinando para os nossos filhos na universidade”, completa.
Depois de tomar posse, Ribeiro não fez mais críticas públicas ao que é ensinado no ensino superior.
Quem entra e Quem sai
Em um mês, Milton Ribeiro trocou dois nomes importantes do MEC. Victor Godoy Veiga, ex-CGU (Controladoria-Geral da União), virou o novo secretário executivo – o “número 2” da pasta.
Na Secretaria de Educação Básica, órgão que faz a ponte entre governo e redes de ensino e que será crucial na retomada das aulas presenciais, Izabel Lima Pessoa substituiu Ilona Becskeházy.
A curta gestão de Becskeházy foi marcada por conflitos ideológicos. Ela publicou na internet o texto “Quem será que gostaria de ver a Ilona fora do MEC/SEB?”.
Nele, rebate acusações como a de ser “globalista”, por ter trabalhado na Fundação Lemann, de “cirista” (apelido dos apoiadores de Ciro Gomes), por ter estudado a educação em Sobral (CE), e de “jornalista de esquerda”.
Ela fez uma série de posts de despedida no Twitter, em que fala em ter “coragem de manter o mais alto padrão moral sempre”.