Quinta-feira, 16 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 1 de junho de 2018
Pedro Sánchez, o líder do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), assume o governo da Espanha com o mesmo pecado original de Michel Temer no Brasil: nem um nem o outro tiveram votos para banhar de legitimidade o mandato a que ascenderam em circunstâncias anômalas.
A favor de Sánchez, só o que se pode dizer é que ele não tinha alternativa, no primeiro momento, a não ser fazer o que fez. Depois que a justiça condenou por corrupção o PP (Partido Popular, do então presidente do governo Mariano Rajoy), apresentar uma moção de censura era o que a oposição tinha a obrigação de fazer.
Acontece que a legislação espanhola obriga o partido que pede a censura do governante de turno a propor, simultaneamente, um nome para substituí-lo, para o caso de a censura passar. Como foi o PSOE quem propôs a decapitação de Rajoy, só podia mesmo oferecer Sánchez, seu secretário-geral, como substituto.
Onde começa o pecado é no fato de o líder socialista não ter anunciado imediatamente depois de sua ascensão a convocação de eleições para legitimar o novo governo (ou para que o eleitorado decida quem deve liderá-lo).
Temer também foi o beneficiário da moção de desconfiança contra Dilma Rousseff (na forma do impeachment, que é o que prevê a legislação brasileira). Mas tinha o dever ético de renunciar, para que houvesse uma nova eleição, que banhasse de legitimidade eleitoral um mandato juridicamente legítimo.
Seria a melhor maneira de tentar evitar o tumulto institucional em que vive desde que assumiu.
No caso da Espanha, o jornal El País, historicamente próximo dos socialistas, antevê para Sánchez a mesma instabilidade que cerca Temer.
Editorial publicado já na véspera do afastamento de Rajoy diz que “a governabilidade da Espanha está a ponto de passar das mãos de um líder, Mariano Rajoy, culpado desta crise institucional por sua incapacidade para afrontar sua responsabilidade política, a outro, Pedro Sánchez, que rechaça acudir à cidadania para obter um mandato claro para seguir adiante”.
Sánchez torna-se presidente do governo tendo obtido apenas 22,63% na eleição geral mais recente (2016). Sua situação, aos olhos do público, só fez piorar de lá para cá: a mais recente pesquisa do instituto Metroscopia mostra o PSOE em quarto lugar na preferência do público, com 19% das intenções de voto, em empate técnico com Podemos e o destronado Partido Popular.
O partido preferido no momento é o Cidadãos, de criação recente, centrista inclinado à direita, e que votou contra a destituição de Rajoy.
Para fechar o imbroglio, Sánchez teve que contar com os votos de partidos independentistas da Catalunha, quando o seu próprio partido é contra o processo em curso naquela região.
El País comenta que, ao fugir das urnas, os partidos tradicionais (PSOE e PP) pretendem “evitar o castigo de seus eleitores”, mas prevê que, a longo prazo, é mais provável que agravem o castigo.
Desafios de Sánchez
A moção de censura que derrubou o presidente do governo, Mariano Rajoy, também empurrou a Espanha para a sua mais grave crise política em quatro décadas da era democrática.
Em minoria no Congresso, com apenas 84 das 350 cadeiras do Parlamento, o líder socialista, Pedro Sánchez, assume o poder como um aprendiz de equilibrista: terá que gerir o que Rajoy chamou de coalizão Frankenstein, aliando-se a independentistas catalães, ao partido antissistema Podemos e a nacionalistas bascos, entre outros.
Sétimo presidente espanhol, Sánchez, de 46 anos, é também o primeiro a chefiar o governo sem ter conquistado uma eleição; atualmente sequer tem assento no Parlamento.
É nesta encruzilhada que se encontram PP e PSOE, os dois principais partidos espanhóis, que se alternaram no poder desde o fim do franquismo. Ambos se recusam à ideia de convocar eleições. Se fossem antecipadas, o vencedor seria, segundo as pesquisas, o partido Cidadãos, de centro-direita, liderado por Albert Rivera, que retirou o apoio a Rajoy e recusou-se a compor com os socialistas.
O líder socialista agora se arvora a um governo em minoria. Terá faturas pesadas a pagar, sobretudo com independentistas da Catalunha, sob intervenção do Estado, a quem ofereceu a retomada do diálogo.
Mesmo derrotado, Rajoy desprezou Sánchez: “Você acredita que poderá governar com 84 deputados? Tenho experiência, e com 134 não tem sido nada fácil”. Resta saber como ele vai conseguir compor o mosaico ideológico que passou a sustentar o governo espanhol.