Apesar de avanços pontuais, a área de TI (Tecnologia da Informação) continua pouco receptiva para as mulheres. Sessenta por cento das empresas no Brasil têm apenas 30% de executivas em cargos de liderança no setor, enquanto os colegas homens recebem quase cinco vezes mais promoções do que elas. E mais: apenas uma em cada quatro companhias contratou mais mulheres do que homens para postos de TI, entre 2021 e 2024.
A análise aparece em uma pesquisa realizada pela Laboratória, organização que atua na inserção de mulheres no mercado de TI, e a consultoria McKinsey. O levantamento, obtido pelo Valor, ouviu 126 empresas e 23 líderes de TI em oito países da América Latina: Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Panamá e Peru. Do total de companhias, 32% são de grande porte.
“Os resultados confirmam o que observamos no dia a dia: o caminho das mulheres até o setor de tecnologia é cheio de obstáculos”, analisa Regina Acher, cofundadora da Laboratória no Brasil, que também chama a atenção para o impacto da maternidade nas carreiras das funcionárias.
“Os dados mostram que 24% delas deixam o trabalho no primeiro ano após serem mães, 17% não retornam em até cinco anos, e 15% não voltam ao mercado após dez anos”, detalha a estudiosa, acrescentando que o levantamento considerou ainda a percepção de 285 mulheres e 551 homens empregados em companhias de TI e de comunicação.
“O cenário revela uma falha grave nas estratégias corporativas para apoiar as profissionais durante e depois da licença-maternidade”, avalia. “Perder mulheres nesse ponto da jornada significa perder talento, diversidade de pensamento e inovação.”
Diante do resultado da investigação, a recomendação de Acher é que as corporações invistam não só em políticas de inclusão de executivas nos departamentos de TI, mas que consigam “acompanhá-las” em seus desafios profissionais.
“A transição de carreira para o setor de TI foi feita por 31% das entrevistadas, quase o dobro [16%] dos homens ouvidos”, compara. “O percentual mostra que há um interesse real das profissionais pela área, mas essa movimentação precisa ser sustentada por empresas preparadas para acolhê-las e impulsioná-las”. As informações são do jornal Valor Econômico.