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Por Redação O Sul | 2 de setembro de 2018
O ministro da Economia da Argentina, Nicolás Dujovne, viajará na segunda-feira (3) a Washington, nos Estados Unidos, para definir os termos de uma nova ajuda do FMI (Fundo Monetário Internacional) após uma semana de frenética corrida contra o peso, que demonstrou a fragilidade econômica e política do país.
A crise cambial iniciada em abril atingiu o clímax na semana passada, quando o peso registrou desvalorização de 20% em relação ao dólar em dois dias, antes de conseguir uma recuperação tímida na sexta-feira após um aumento a 60% das taxas de juros e de vendas milionárias do Banco Central, sob a expectativa de anúncios na próxima semana. “A confiança dos investidores na Argentina ainda é frágil”, adverte um documento da Capital Economics.
Em seu relatório semanal a empresa de consultoria internacional destaca que “existe um notório risco de que o governo fracasse em apresentar um plano de austeridade convincente” na segunda-feira, quando são aguardados anúncios de Dujovne antes da viagem para Washington. “Isto seria um risco evidente para uma queda ainda maior do peso”, adverte.
A moeda desabou depois do anúncio de quarta-feira do presidente Mauricio Macri, em rede nacional, de que havia solicitado uma antecipação da ajuda do FMI. A resposta dos mercados expôs a magnitude da crise de confiança no governo e em sua capacidade de pagar as dívidas com a possibilidade de uma nova recessão, citada pelos analistas. A incerteza aterroriza os argentinos, em um cenário de inflação de quase 20% em julho e uma desvalorização acumulada da moeda de 50% desde janeiro.
Para apaziguar os mercados, Macri pediu ao FMI que antecipe “todos os fundos necessários” do acordo de US$ 50 bilhões a três anos anunciado em junho.Ele espera assim cobrir as necessidades financeiras de 2019, quando termina seu mandato.
Após o anúncio do presidente, a corrida cambial se aprofundou e a moeda argentina chegou a ser vendida a 41 por dólar na quinta-feira. A crise cambial levou o risco do país a quase 800 pontos, o segundo maior da região, atrás apenas da Venezuela.
“Foi um passo em falso de Macri”, afirma o sociólogo Marcos Novaro, que prevê mudanças no ministério após as turbulências financeiras. A Argentina se comprometeu em junho com o FMI a reduzir o déficit a 1,3% em 2019, mas a imprensa local especula sobre um ajuste mais drástico para reduzi-lo a 0,4% no próximo ano.
Na terça-feira (4), Dujovne deve apresentar à diretora do FMI, Christine Lagarde, os detalhes do novo compromisso que a Argentina assume em troca da aceleração dos pagamentos. Desde junho, o país já recebeu US$ 15 bilhões e na semana passada outros US$ 3 bilhões.
Desde que assumiu o poder em dezembro de 2015, o governo de centro-direita de Macri adotou um drástico corte de gastos do Estado, com o fim de subsídios, demissões e congelamento de contratações na administração pública, entre outras medidas de ajuste fiscal.
Mas também beneficiou com um corte de impostos as exportações agrícolas, medida que a emergência colocou em revisão. “Mas não está claro se será suficiente para estabilizar as finanças”, afirma o analista do Deutsche Bank, Jim Reid.
Extenuados
A histeria cambial e seus efeitos nos preços deixaram extenuados os argentinos, que lembraram os traumas da crise econômica de 2001. Embora as condições financeiras sejam muito diferentes, o medo dos argentinos é similar e o pessimismo sobre o futuro da economia aumenta
A CGT, principal central sindical do país, convocou uma greve geral para 25 de setembro para exibir uma mudança de rumo econômico. O aumento dos preços dos alimentos, transportes, serviços básicos e educação se une ao temor da perda de emprego, um medo que afeta 50% dos trabalhadores, segundo uma pesquisa do Centro de Estudos do Trabalho e Desenvolvimento.