Quarta-feira, 24 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de setembro de 2025
O Banco Central da Argentina voltou a intervir no câmbio na sexta-feira (19), pelo terceiro dia consecutivo, para segurar a cotação do dólar. Depois de muitos rumores no mercado, o BC informou no fim da tarde que injetou US$ 678 milhões. Com isso, na semana, o total chegou a US$ 1,11 bilhão — um dia depois de o ministro da Economia, Luis Caputo, afirmar que venderia “até o último dólar” para manter a cotação dentro da banda estabelecida no acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Na quarta-feira, a intervenção havia sido de US$ 53 milhões; na quinta, foram US$ 379 milhões. Nas semanas prévias, os dólares usados para conter a cotação da moeda americana eram do Tesouro Nacional, e somaram um total de US$ 1 bilhão.
A questão é que, segundo fontes do mercado, as reservas líquidas do BC argentino estão, atualmente, em torno de US$ 6 bilhões. Como, então, continuar a vender dólares?
Segundo fontes do mercado, analistas especulam um anúncio de medidas na semana que vem. As opções sobre a mesa, de acordo com as mesmas fontes, são: voltar a aplicar um sistema similar ao chamado “cepo”, que limita a quantidade de dólares que os argentinos podem comprar; suspender o sistema de bandas e desvalorizar o peso, o que poderia provocar um rápido aumento da inflação; ou implementar um novo tributo sobre a compra de dólares, como fez o governo peronista de Alberto Fernández e Cristina Kirchner.
“Pânico é político”
O BC argentino não tem como sustentar este nível de corrida cambial por muito mais tempo. Mas as três opções que neste momento estão sendo comentadas no mercado implicariam recuos difíceis de digerir para o presidente do país Javier Milei e para seu eleitorado mais fiel. Com um ajuste fiscal forte e suas consequências, o presidente já perdeu a confiança de parte dos eleitores que apostaram nele nas eleições presidenciais de 2023.
“Na cotação atual, o governo precisaria de US$ 9,75 bilhões para defender a banda cambial até as eleições. Parece um custo alto demais para o governo e pode levá-lo a fazer mudanças no regime cambial”, disse à Bloomberg o economista Santiago Resico, da corretora portenha one618 Group, após a intervenção de quinta-feira.
O dólar no atacado, que é usado na banda cambial, fechou ontem a 1.475 pesos, encostado no teto, de 1.475,32 pesos. Já os outros dólares — são vários na Argentina — superaram os 1.500 pesos.
“Vamos vender até o último dólar no teto da banda”, afirmou Caputo em entrevista ao programa Las Tres Anclas, transmitido pelo canal de streaming governista Carajo. Ele ainda assegurou que “há dólares para todos”.
“Com o Banco Central da Argentina vendendo dólares no teto da banda nos últimos dias, há dúvidas sobre o quão sustentável é isso”, afirmaram em nota a clientes economistas do Morgan Stanley. “Agora, mesmo se a incerteza política se dissipar após as eleições, pode ser necessária uma nova base macroeconômica.”
Já Milei tentou minimizar a questão cambial:
“Todo o pânico é político, e se no dia 26 de outubro (quando haverá eleições legislativas nacionais) pintarmos a Argentina de violeta (a cor de seu partido, A Liberdade Avança), será possível cumprir o sonho de tornar a Argentina novamente um grande país”, afirmou ele em discurso na Bolsa de Valores da cidade de Córdoba.
O chefe de Estado tem acumulado derrotas desde que a oposição venceu as eleições na província de Buenos Aires, no último dia 7. Esta semana, vetos de Milei foram derrubados no Parlamento e circularam rumores de uma suposta negociação com o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) para selar uma aliança que lhe dê oxigênio até as eleições legislativas.