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Colunistas Às armas, cidadãos!

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Armas não ajudam nem melhoram a nossa vida. (Foto: Divulgação)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Armas não ajudam nem melhoram a nossa vida. Mas a polêmica envenena corações e mentes. Parece ser uma dessas encruzilhadas finais que apontam o rumo do futuro para o bem ou o mal. É uma pena que nos ocupemos com tal intensidade de assunto tão pouco relevante diante das prioridades do país.

Todos, dentro de certas normas e limites, têm o direito de possuir armamentos de fogo. É certo: ao estancieiro que vive em local ermo e distante não pode ser subtraído o direito de possuir uma ou mais armas de defesa. Mas isso ele já possui, e de muito tempo. Por que estender e flexibilizar a posse e o porte desses artefatos de alta letalidade?

A polícia nos adverte o tempo todo de que não devemos reagir ao assalto. Com razão: o assaltante conta com o fator surpresa, maneja a pistola com frieza e habilidade, e com a falta de escrúpulo da bandidagem. Para nós, homens e mulheres comuns, arma não é parte do dia a dia. Uma arma não é um liquidificador. É uma irresponsabilidade estimular a população ao confronto armado com o crime. Vai aumentar a estatística que nos envergonha, o morticínio de proporções épicas, a “guerra civil” que consome a vida de mais de 60 mil brasileiros por ano.

Só a indústria fabricante vai ganhar com uma política armamentista de governo e de Estado. As armas são para a defesa pessoal, dizem. São mesmo? A quem querem enganar? Estamos exaustos de saber que a arma de defesa, de hora para outra, em momento de ira, se transforma em arma destruidora, de ataque. E se for para defesa então para que quatro armas por pessoa, como autoriza o decreto de Bolsonaro?

É com armas na mão que os homens cometem as maiores atrocidades contra o seu semelhante. O propósito original do Estado é manter a paz, fomentar o diálogo e a convivência pacífica entre os concidadãos. Voltamos atrás muitas casas no jogo civilizatório. Como no hino francês, estamos concitando: “às armas, cidadãos!”. Mas “A Marselhesa” é um cântico marcial, composto e dado a conhecer ao mundo em meio a uma revolução.

A nova política de armas é uma escolha obscurantista. De longe, dá para ouvir o brado mórbido do general falangista espanhol, Millán-Astray, no ano de 1936, no auditório da Universidade de Salamanca, a mais antiga do mundo: “Abaixo a inteligência! Viva a morte!”. Ao invés, deveríamos ouvir a resposta enérgica do reitor e humanista Miguel de Unamuno: “Este é o templo da inteligência e eu sou o seu sumo sacerdote!”.

O armamentismo nos torna piores do que já somos. Civilização é a “película fina e facilmente destruída, onde habitam a inteligência, o ceticismo e a ironia” (Amós Oz) e, acrescento eu, o diálogo pacífico, a existência comum. As armas, ao menor descuido, se transformam em instrumentos de opressão e barbárie, e nos distanciam da paz, da harmonia e da compaixão.

Nós sabemos quem é Martin Luther King Júnior e Mahatma Gandhi. Eram profetas desarmados, homens do bem, do diálogo e da paz. Foram abatidos a tiros por James Earl Ray e Nathuran Godse. O armamentismo nos afasta de Luther King e de Gandhi, e nos aproxima de Ray e Godse.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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