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| As crianças de rua de Caracas agora brigam por latas de lixo mais cheias

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Nos quatro meses em que milhares de pessoas foram às ruas protestar contra o governo do presidente Nicolás Maduro, jovens moradores de rua ganharam a atenção da classe média. (Foto: Reprodução)

Desde que se encerraram as manifestações de protesto que sacudiram a Venezuela entre abril e julho deste ano, a vida das crianças de rua de Caracas anda mais difícil. Nos quatro meses em que milhares de pessoas foram às ruas protestar contra o governo do presidente Nicolás Maduro, jovens moradores de rua ganharam a atenção da classe média pelo protagonismo que assumiram nos embates contra a Guarda Nacional Bolivariana.

Portando escudos, os jovens que passaram a se auto-intitular “A resistência” seguiam na linha de frente dos protestos da capital venezuelana e de outras cidades do país, que deixaram mais de 140 pessoas mortas.

Doações

Em reconhecimento pela participação, passaram a receber uma rara atenção, com fartas doações de comida, roupas, sapatos e carinho. “Foi o melhor momento de nossas vidas, com certeza”, conta Caramelo, uma menina de 15 anos, moradora das ruas de Caracas desde os 11. “De repente, todo mundo que (antes) olhava pra gente com medo, que fugia da gente achando que íamos roubar, passou a nos dar atenção, a olhar para nós como pessoas como elas, foi bom demais”, diz a adolescente, grávida de seis meses de sua primeira filha e moradora em uma galeria subterrânea por onde passam cabos de alta tensão, sob uma das avenidas mais movimentadas da capital venezuelana.

Não raras vezes, os jovens eram chamados publicamente de heróis por líderes políticos de oposição que incentivavam os protestos e por moradores de bairros mais ricos da cidade, epicentro da oposição ao regime socialista implantado em 1999 pelo ex-presidente Hugo Chávez (1954-2013).

Fim dos protestos

Uma nova eleição foi convocada para dezembro, e os partidos oposicionistas decidiram participar do pleito. Com isso, mudaram sua estratégia anterior, abandonando os protestos. Como resultado, a vida dos jovens voltou à rotina de sempre.

“Nos diziam que éramos heróis da pátria porque estávamos defendendo o povo, éramos o futuro da Venezuela, nos davam comida, nos davam tudo e agora nos esqueceram de novo”, diz Beba, uma jovem, grávida de 14 anos.

“Eu queria a volta dos protestos porque tinha muita comida, a gente não precisava ficar procurando no lixo o que comer”, conta Edouard, de apenas 9 anos.

Ele deixou sua casa e decidiu viver na rua após ser estimulado pelo primo sobre a fartura de comida disponível nas ruas. “Mas ainda assim aqui está melhor, em casa eu só comia uma vez por dia, aqui como até quatro vezes”, diz o menino.

Transparentes

Praticamente invisíveis para a classe média de Caracas, as crianças e adolescentes que trocam a casa pelas ruas não param de crescer em número na capital da Venezuela.

Não se sabe ao certo quantos eles são, mas o consenso entre especialistas e a população local é de que jamais a Venezuela viu um fenômeno como esse – sinal do empobrecimento agudo pelo qual passa o país desde que o preço do petróleo encerrou um longo ciclo de alta e mudou radicalmente de patamar a partir de 2013.

“Houve um crescimento sem precedentes no número desses meninos. Eles surgiram como um grupo organizado agora nos protestos. É algo novo”, conta Óscar Misle Terrero, diretor e fundador da Cecodap, uma ONG criada há 32 anos em Caracas para trabalhar com a questão da violência contra menores.

“Sempre houve jovens nas ruas de Caracas, mas em geral eles trabalhavam ou mendigavam durante o dia, e voltavam à noite para suas casas”, diz ele. “Agora é diferente”.

Traumas

Terrero diz estar preocupado com os reflexos da mudança brusca do tratamento que os jovens de rua receberam das famílias de classe média de Caracas durante as manifestações.

“É fundamental entender o impacto disso na vida e nas expectativas dessas crianças, que viveram o tempo todo à margem, apanhando dos pais, das mães, da polícia, dos maiores”, diz ele, psicólogo especializado no tratamento de crianças traumatizadas pela violência. “Sair desse patamar de exclusão e ser alçado rapidamente ao papel de herói e, logo em seguida, retornar ao posto de pária social pode ter consequências devastadoras”.

“Não é muito difícil prever como essas crianças e adolescentes vão se comportar, é claro que haverá uma dose alta de frustração”. (BBC Brasil)

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