Segunda-feira, 12 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 28 de maio de 2015
Para entender as relações entre CBF, a empresa Traffic e José Maria Marin, detido nessa quarta-feira na Suíça, no escândalo da Fifa, é preciso recorrer ao surgimento de Ricardo Teixeira no futebol brasileiro e todas as implicações que vieram a seguir. Teixeira apareceu em 1989 quando venceu as eleições à presidência da CBF, apadrinhado por João Havelange, o então dono do universo do futebol como presidente da Fifa desde 1974.
Teixeira era genro de Havelange. Nada mais natural do que pôr alguém da “família” para continuar no poder. Eleito presidente da CBF, Teixeira encontrou a entidade sem caixa. Na campanha, ele havia assumido compromissos com federações estaduais e clubes e precisava de recursos para pagar a conta. A saída foi recorrer a dois amigos, os ex-repórteres esportivos J. Hawilla e Kleber Leite, que começavam a crescer no mundo dos negócios do marketing do esporte. Hawilla era dono da Traffic e Kleber, da Klefer.
Os dois se tornaram parceiros no negócio de venda de placas de publicidade nos estádios. Foram ao mercado e conseguiram arrancar da Pepsi-Cola um investimento de 1 milhão de dólares (3 milhões de reais em valores atuais) para a CBF.
Com esse dinheiro, Teixeira quitou as “dívidas” que tinha com seus eleitores. Grato à dupla Hawilla e Kleber, Ricardo Teixeira passou a operar os contratos de marketing da CBF com os dois pupilos. A primeira grande operação foi o contrato com a Nike, firmado em 1996.
Na época, era o maior contrato de patrocínio de uma empresa de material esportivo com uma entidade de futebol – a bagatela de 200 milhões de dólares (600 milhões de reais atuais). Hawilla, mais do que Kleber, foi um dos principais articuladores na negociação com a Nike. Ganhando assim mais prestígio com Teixeira. Hawilla ampliou sua parceria com o futebol estendendo seus vínculos com a Confederação Sul-Americana de Futebol, agora nos negócios dos direitos de transmissão da televisão dos principais campeonatos do continente.
Kleber Leite não acompanhou seu velho amigo Hawilla nessa empreitada. Por desavenças, Kleber perdeu espaço na CBF de Teixeira. Hawilla continuou ampliando sua teia. Virou parceiro do Grupo Águia, de Wagner Abraão, amigo de Teixeira, encarregado das viagens e hospedagens da CBF (cartolas e jogadores) há 30 anos.
Delação premiada
Fora da CBF, a Traffic abriu espaço para a volta da Klefer. Marin e Del Nero passaram a se entender melhor com Kleber, que comprou os direitos de televisão da Copa do Brasil de 2015 a 2022. Os direitos pertenciam à Traffic até 2014. A Copa do Brasil faz parte das investigações do FBI e da Justiça norte-americana no escândalo da Fifa. Hawilla, por acordo de delação premiada, prometeu devolver 476 milhões de reais à Justiça dos EUA.
Ricardo Teixeira, até essa quarta-feira, não tinha seu nome envolvido no escândalo. Em 2012, José Maria Marin, então vice-presidente mais velho da CBF, havia assumido o trono na presidência da CBF, com o afastamento de Teixeira, envolvido em escândalos de corrupção tanto na CBF quanto na Fifa. (Luiz Antônio Prósperi/AE)