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Por Redação O Sul | 8 de abril de 2018
O Deserto do Saara expandiu-se cerca de 10% desde 1920, aponta estudo de cientistas da Universidade de Maryland, nos EUA, publicado recentemente no periódico científico “Journal of Climate”. O estudo é o primeiro a fazer um levantamento em escala de séculos das mudanças nas “fronteiras” do maior deserto do mundo, e sugere que outros ambientes do tipo no planeta também podem estar crescendo. As informações são do jornal O Globo.
Os desertos são tipicamente definidos como locais onde a média anual de precipitação não passa de 100 milímetros. Assim, os pesquisadores analisaram os dados sobre as chuvas registrados por toda a África entre 1920 e 2013, revelando que o Saara, que ocupa grande parte do Norte do continente, aumentou em aproximadamente 10% seu tamanho de acordo com essas tendências anuais. Já quando eles analisaram as tendências sazonais no mesmo período, essa expansão se mostrou ainda maior no verão, com um aumento de quase 16% na área média sazonal do deserto nos 93 anos estudados.
“Nossos resultados são específicos para o Saara, mas provavelmente terão implicações (nas análises) em outros desertos no mundo” considerou Sumant Nigam, professor de ciências atmosféricas e oceânicas da universidade americana e autor sênior do estudo.
Segundo os pesquisadores, os resultados sugerem que as mudanças climáticas induzidas pela ação humana, em conjunto com ciclos climáticos naturais como a Oscilação Multidécadas do Atlântico (AMO), levaram ao aumento de área do Saara. E esse padrão de expansão geográfica variou de estação em estação, com as maiores diferenças acontecendo nos limites Norte e Sul do deserto.
“Os desertos geralmente se formam nas regiões subtropicais em razão da Célula de Hadley (padrão de circulação atmosférica da Terra predominante nas latitudes equatoriais e tropicais) no qual o ar (quente) sobe no equador e desce (esfriado) nos subtrópicos (importante mecanismo de distribuição de calor no planeta)”, acrescentou Nigam. “As mudanças climáticas provavelmente alargaram a Célula de Hadley, provocando um avanço rumo ao Norte dos desertos subtropicais. A expansão para o Sul do Saara, no entanto, sugere que mecanismos adicionais estão agindo também, incluindo ciclos climáticos como a AMO.”
O Saara é o maior deserto de clima quente do mundo, com uma área aproximadamente igual à dos EUA continentais. E, como outros desertos, as “fronteiras” do Saara “flutuam” com as estações, expandindo-se durante os secos invernos e se contraindo nos verões, mais “úmidos”.
A “fronteira” meridional do Saara faz limite com o Sahel, uma longa zona de transição de clima semiárido que separa o deserto das férteis savanas ao Sul do continente. Assim, a expansão do Saara provoca uma retração do Sahel, perturbando o frágil ecossistema da região e as sociedades que nela vivem. O Lago Chade, por exemplo, fica bem no meio dessa zona de transição, funcionando como um “alarme” das mudanças que a expansão do deserto está provocando no Sahel.
“A Bacia do Chade fica na área onde o Saara avançou para o Sul, e o lago está secando”, destacou Nigam. “O lago é um marcador muito visível da queda nas chuvas não só localmente como em toda região, já que é um indicador de menos água chegando na grande Bacia do Chade.”