Sábado, 18 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 17 de outubro de 2025
A jornalista britânica Lesley-Ann Jones, 69, já escreveu três biografias sobre o cantor Freddie Mercury (1946-1991). A mais recente, “Com amor, Freddie – A vida e o amor secreto de Freddie Mercury” traz um aviso logo no início: tudo o que ela sabia se tornou “insignificante” diante das revelações fornecidas pela “filha desconhecida” do artista.
Supostamente sem pedir nada em troca, “a não ser a verdade, em respeito” ao pai, a filha do cantor, identificada apenas como B., entrou em contato com Jones para contar a história a partir da convivência entre os dois. Mostrou 17 diários manuscritos de 192 páginas, em um período de 15 anos, entregues pelo próprio cantor. Ela afirma que o pai preferia manter a privacidade, porém entrou em contato com Jones para contar “a história sem mentiras”.
No entanto, não há comprovação da veracidade dessa história, e tudo pode não passar de invenção.
Fruto de um adultério de sua mãe francesa com Mercury, segundo o livro, B. conta que nem a separação e muito menos o aborto foram cogitados pela “esposa quase dedicada”, católica, nos anos 70. O marido perdoou a esposa, e a amizade do casal com Mercury, iniciada muito antes do nascimento da filha, em 1976, foi mantida.
Lançado em 2018, o filme “Bohemian Rhapsody”, baseado na vida do cantor, seria também, segundo B., uma obra sem nenhum compromisso com a realidade, cheia de imprecisões, distorções, clichês e buracos. Embora tenha se tornado um grande sucesso de bilheteria e rendido o Oscar de melhor ator ao americano Rami Malek, o longa, diz B., teria horrorizado Mercury.
Em uma carta manuscrita a Jones, cuja imagem foi reproduzida no livro, B. afirma que a maioria do que foi escrito a respeito do pai foi “uma distorção grosseira da realidade”, um “ato de exploração” e que a “verdadeira história de Freddie Mercury” seria contada pela hoje amiga Jones.
Se ao menos um pequeno trecho dos diários manuscritos de Mercury fosse reproduzido no livro, haveria menos razões para duvidar da veracidade dessa suposta filha e desse novo livro.
Segundo B., Mercury achava que a necessidade desesperada e a ambição fervorosa de ser alguém na vida não existia no guitarrista Brian May, talvez pelo fato de o músico ter tido uma infância estável e feliz. Já o baixista John Deacon também teria trazido a perda do pai e a infância disfuncional para o Queen.
O baterista Roger Taylor enfrentou o doloroso divórcio dos pais e estava ao volante no grave acidente que impossibilitou a conclusão da faculdade de medicina de seu melhor amigo e causou outros danos aos demais passageiros.
Para B., a conexão do pai com Deacon e Taylor era mais profunda do que com Brian May, que não se pronunciou sobre esse novo livro. Sua mulher, Anita Dobson, disse ao Mirror que a filha e as revelações “talvez sejam apenas mais fake news”.
Os traumas de Mercury no internato na Índia, diz a filha, foram as feridas que jamais cicatrizaram. Contra a humilhação, o desprezo, o bullying e o abuso sexual, a música era o seu refúgio. Essa vivência, segundo B., teria inspirado Mercury nos versos da canção “The Great Pretender” (em tradução livre: “Sim, eu sou um grande fingidor/ finjo muito/ Estou sozinho, mas ninguém consegue ver”).
Somente com as pessoas de confiança, Mercury falava sobre os traumas, sua religião e suas raízes. No entanto isso não teria impedido que se tornasse uma pessoa extremamente insegura. “Foi essa insegurança que o lançou no sonho de se tornar artista”, diz B.
De acordo com B., Mercury, um “ator nato”, ao se comportar de maneira transgressora, conseguia proteger e esconder o seu verdadeiro eu. “As pessoas viam a armadura, não o homem; muito menos a criança desamparada que nunca superou o medo de ficar sozinho. Quando Freddie Bulsara (seu verdadeiro nome) começava a ganhar terreno sobre Freddie Mercury, essa retomada acabou acontecendo tarde demais”, analisa a filha, num texto piegas e repleto de clichês.
Em meio a contradições entre os próprios livros de Jones e o de outros autores, “Com amor, Freddie” não é a verdadeira história de Mercury, como tantas vezes apontado no livro, e sim um olhar da filha. As informações são do jornal Valor Econômico.