Quarta-feira, 08 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de outubro de 2025
Dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES) apontam que até 40% dos pacientes não comparecem às primeiras consultas especializadas, sobretudo por causa da oferta reduzida ou mesmo inexistente de transporte por parte dos municípios. Para mudar esse cenário, até 2026 será repassado um total de R$ 50,4 milhões a 488 das 497 prefeituras do Rio Grande do Sul, por meio do programa “SUS Gaúcho”.
O montante inclui R$ 12,6 milhões ainda neste ano. A ideia é garantir o deslocamento de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) até o local da consulta. Ttrata-se de uma inédita nesse setor no Estado.
“Em geral, as consultas com especialistas são marcadas para outras localidades, às quais os pacientes acabam não comparecendo por indisponibilidade de recursos das prefeituras para os deslocamentos”, explica o texto informativo no site estado.rs.gov.br. “Por causa disso, diagnósticos e tratamentos acabam sendo adiados, aumentando os riscos à saúde dos pacientes.”
Foram selecionados os municípios com menor população – geralmente abaixo de 200 mil habitantes – e menor renda, com Produto Interno Bruto (PIB) per capita inferior a R$ 20 mil. Quanto maior o porte do município, menor o valor, já que essas cidades costumam atender boa parte da demanda em seu próprio território.
O valor a ser repassado tem como principal indicador o percentual de ausências de pacientes nas primeiras consultas especializadas ou nos retornos. Também são critérios o percentual da população que depende do SUS e a distância da origem em relação ao município mais populoso da região.
Menor espera
De acordo com a diretora de Regulação da SES, Suelen Arduin, a expectativa é de que haja uma redução nas ausências, com um aumento tanto nas primeiras consultas especializadas quanto nas consultas de retorno (quando o paciente já foi atendido anteriormente): “Além de inédita, a participação do Estado no financiamento do transporte de pacientes faz parte da evolução da fila única adotada no SUS nos últimos anos”.
Com a implantação do Sistema de Gerenciamento de Consultas (Gercon), em 2019, o Departamento de Regulação passou a monitorar todos os pacientes do Estado que aguardam por consultas especializadas. A marcação de consultas passou a priorizar os casos mais urgentes e o tempo de espera de cada paciente na fila por atendimento, criando desafios para os municípios.
A diretora acrescenta: “Anteriormente, a distribuição de consultas era feita por cotas e a logística permitia o transporte de vários pacientes em um único veículo. Agora, com maior transparência na fila e nos critérios utilizados, surgiu a necessidade de transportar os pacientes com mais frequência. Com isso, os municípios se viram diante da necessidade de aumentar o número de veículos e, consequentemente, dos custos de transporte”.
Maior verba
Em Santa Margarida do Sul, 99,7% da população (2.658 habitantes) depende do SUS. A unidade básica de saúde local funciona 24 horas por dia, mas, para terem atendimento especializado, os moradores precisam se deslocar em média 330 quilômetros. Diante dessa realidade, o município foi escolhido para receber o maior valor do SUS Gaúcho para o transporte de pacientes: R$ 13,6 mil mensais.
“Pacientes de oftalmologia vão para Rosário do Sul. Temos atendimento de oncologia em Uruguaiana e Santa Maria; de endocrinologia, em Alegrete e Livramento; de ginecologia, também em Livramento; e de cardiologia em Ijuí”, explica a secretária municipal de Saúde, Elisangela Silveira. Já os atendimentos de emergência costumam ocorrer em São Gabriel, a 301 quilômetros de distância.
São realizadas cinco viagens diárias para transportar pacientes para as consultas, inclusive, quando é o caso, nos finais de semana. Todas realizadas em veículos da prefeitura. “Já aconteceu de termos viagens para nove cidades diferentes no mesmo dia. Às vezes, temos que pedir carros e motoristas de outras secretarias para conseguir transportar todos os pacientes, mas nunca perdemos uma consulta”, relata a secretária.
Com o SUS Gaúcho, Santa Margarida terá mais recursos para aplicar em outras áreas da saúde no município. “Uma viagem para Uruguaiana, com hora extra, diária, motorista e combustíveis, custa R$ 890. Gastamos mais de R$ 1,2 milhão por ano com transporte. Como não deixamos de levar ninguém, o recurso é uma bênção. Nem acredito ainda na notícia”, finaliza Elisangela.
Depois de Santa Margarida do Sul, os maiores valores repassados pelo SUS Gaúcho serão destinados a São Gabriel (R$ 12,8 mil), Chuí (R$ 12,6 mil), Rosário do Sul (R$ 11,9 mil) e Santa Vitória do Palmar (R$ 11 mil).
(Marcello Campos)
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