Domingo, 11 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 20 de novembro de 2018
Três veteranos do movimento pró-democracia de Hong Kong se declararam inocentes, na segunda-feira, das acusações de perturbação da ordem pública. Eles são julgados pela sua atuação na Revolução dos Guarda-Chuvas, que levaram milhares de manifestantes às ruas no território semi-autônomo chinês contra o governo de Pequim.
Chan Kin-man, de 59 anos, professor de Sociologia; Benny Tai, de 54 anos, professor de Direito; e Chu Yiu-ming, pastor batista de 74 anos, fundaram em 2013 o movimento “Occupy Central”. Eles e outros seis acusados (incluindo deputados, líderes estudantis e ativistas) serão julgados por três semanas a contar da última segunda-feira. Podem ser condenados a até sete anos de prisão.
Os acusados foram recebidos na entrada do tribunal por centenas de simpatizantes, que gritavam frases como “Resistência pacífica” e “Quero um verdadeiro sufrágio universal”. Numa demonstração de desafio, os nove réus e mais de 100 manifestantes exibiram guarda-chuvas amarelos, um símbolo do movimento, fora do tribunal, batendo palmas contra o fim das acusações políticas. O promotor Andrew Bruce afirmou que as manifestações provocaram “prejuízos aos moradores” , afirmando que os acusados apoiaram o “bloqueio ilegal de locais públicos e vias de trânsito”.
“Um movimento pode ser esmagado, mas não derrotado”, disseram os nove acusados em comunicado conjunto. “Estas acusações permitem ao governo abusar do poder de acusação e infringir a liberdade de expressão e de reunião pacífica. Os nove acusados decidiram unanimemente não se declarar culpados”.
Em 2014, o objetivo dos acusados era ocupar o distrito financeiro de Hong Kong caso não fosse aprovado um sufrágio universal livre para escolher o presidente do governo local, que é nomeado por um comitê alinhado à China. Vários jovens se uniram ao protesto, incluindo o movimento estudantil, e a situação explodiu com confrontos contra a polícia, quando agentes de segurança usaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes, que se protegiam com guarda-chuvas.
O trio do Occupy convocou a população para apoiar o movimento, o que paralisou vários bairros de um dos maiores centros financeiros do mundo durante mais de dois meses. Desde então, os ativistas estão sendo processados pelo Ministério da Justiça, e alguns já cumprem penas de prisão. Outros perderam os direitos políticos e não podem disputar cargos públicos.
O professor Chan fez um discurso de despedida na semana passada para mais de 600 pessoas na Universidade Chinesa de Hong Kong, onde dá aulas há mais de 20 anos:
“Enquanto a prisão e as provações não nos esmagarem e não permitirmos que sejamos tomados pela frustração e raiva, nos tornaremos mais fortes e inspiraremos os outros”, declarou, ao anunciar sua aposentadoria antecipada para o próximo ano.
Ex-colônia britânica, Hong Kong retornou ao domínio chinês em 1997 sob a fórmula de “um país, dois sistemas” com a promessa de um alto grau de autonomia e mais liberdades do que as oferecidas aos cidadãos na China continental, incluindo o direito de protestar. No entanto, críticos de Pequim, governos estrangeiros, grupos empresariais e ativistas dizem que estas garantias estão cada vez mais esvaziadas.