Por Redação O Sul | 6 de junho de 2025
Por meses, os acionistas da Tesla foram atormentados pelo papel de Elon Musk na administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mas qualquer alívio trazido por sua saída formal do governo na semana passada rapidamente se transformou em medo, à medida que o CEO da fabricante de veículos elétricos trocava farpas com seu ex-chefe.
As ações da fabricante de carros elétricos de Musk despencaram 14% na quinta-feira, após um desentendimento sobre a proposta de legislação tributária de Trump se transformar em uma disputa pública total, com o presidente ameaçando encerrar contratos governamentais e subsídios para a Tesla e para a Space X de Musk. O colapso eliminou US$ 153 bilhões do valor de mercado da Tesla – a maior queda em um único dia já registrada – enquanto gerou ganhos de US$ 4 bilhões para os vendedores a descoberto, segundo dados da S3 Partners.
Nas negociações de pré-mercado nessa sexta-feira, as ações mostraram sinais de recuperação – subindo 4,7% às 4h01min em Nova York. Analistas otimistas, como Daniel Ives, da Wedbush Securities, observam que a disputa não altera sua visão sobre as ações, mas “claramente representa um obstáculo no arcabouço regulatório de Trump daqui para frente.”
Embora os acionistas da Tesla já estejam acostumados com oscilações de tirar o fôlego, a queda de quinta-feira evidenciou o quanto a influência de Musk sobre as ações de sua empresa é significativa. E, embora o tombo possa eventualmente representar uma oportunidade de compra, alguns observadores do mercado dizem que é arriscado demais tentar “pegar a faca caindo”.
As ações da Tesla dispararam após a vitória eleitoral de Trump, que muitos esperavam ser benéfica para a empresa, dado o vínculo de Musk com o então presidente eleito.
Nos bastidores, no entanto, as perspectivas para o negócio de veículos elétricos vinham enfraquecendo, e o envolvimento de Musk em controvérsias políticas, tanto nos EUA quanto no exterior, afastou alguns compradores de carros e provocou protestos contra a empresa. Com a queda de quinta-feira, as ações acumulam uma desvalorização de 41% em relação ao recorde histórico registrado em dezembro.
Veja o que vem a seguir para as ações da fabricante de veículos elétricos, segundo observadores do mercado:
– Wayne Kaufman, analista-chefe de mercado da Phoenix Financial Services: “Toda essa situação é idiota. Pessoas nessas posições deveriam saber se comportar melhor do que adolescentes do ensino fundamental. O que torna isso especialmente difícil para a Tesla é que não dá para separar o valor da empresa da figura dele. A Tesla sempre foi negociada com base no Musk.”
“Quando ele parecia um visionário, as ações subiam. Quando ele entrou na DOGE, despencaram. Quando saiu da DOGE, se recuperaram. Musk é o cara que fazia o papel subir, então, obviamente, as ações vão cair quando ele se torna o problema, como agora. Ninguém sabe o que vai acontecer. No entanto, se houvesse um enorme valor intrínseco na Tesla, ela não estaria despencando como está agora. Nunca foi uma ação negociada com base em fundamentos.”
– Adam Sarhan, CEO da 50 Park Investments: “Está claro que Elon e Trump não estão mais alinhados. Não sabemos quais serão as ramificações disso, e é por isso que as pessoas venderam. Esse não é o tipo de situação em que haverá um sinal verde ou uma resolução clara. Se isso escalar, acredito que tem potencial real para prejudicar os lucros da Tesla. Estamos falando de duas das maiores personalidades do planeta, e se for uma batalha de egos, Trump sairá vitorioso.”
“O impacto nas ações é incerto. Neste momento, é puro jogo de azar – e isso antes mesmo de considerarmos que a Tesla já estava cara. Talvez esteja se tornando mais atraente com a queda, mas não posso, com consciência tranquila, dizer que está barata.”
– Ross Gerber, CEO da Gerber Kawasaki Wealth and Investment Management: “Isso é um desastre para o Musk. Não sei se consigo dar um viés positivo a essa situação, porque está tão além do que qualquer empresário inteligente faria. Não consigo imaginar que, depois de apoiar Trump, ele transformaria Trump em inimigo de tudo.”
“O conselho não vai fazer nada, ninguém vai proteger os acionistas da Tesla, e a única forma de se proteger é vendendo ações – e eu, pessoalmente, vendi algumas ações da Tesla hoje. E temos vendido há anos, e continuamos a vender ações da Tesla.”
– Tom Orlik, economista-chefe da Bloomberg Economics: “Investir contra as empresas do Musk colocaria em risco a liderança tecnológica dos EUA. De satélites da SpaceX à inteligência artificial Grok e aos veículos elétricos da Tesla, as empresas de Musk deram aos EUA uma vantagem competitiva em setores estratégicos. Isso seria muito para abrir mão.” As informações são da agência de notícias Bloomberg.
