Domingo, 26 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de maio de 2015
Aos 65 anos, além dos cinco filhos, seis netos e dois bisnetos, Mara Santos tem outra paixão: uma moto de 125 cilindradas. Ela acredita que parte do sentimento se de deve ao preconceito que enfrentou para conseguir, já idosa, a habilitação na categoria A. “Na autoescola, o instrutor sugeriu que eu andasse de bicicleta em vez de pilotar moto. Fiquei mal, cheguei a desistir, mas consegui vencer o preconceito”, diz.
Hoje, além da permissão para pilotar motos, a costureira de Guarapuava, na região central do Paraná, também tem autorização para dirigir caminhões e carros. Entretanto, o veículo de duas rodas ainda é o preferido. “Andar de moto me dá uma sensação de liberdade, de independência”, explica. De acordo com ela, o próximo passo é trocar o veículo atual, por um mais potente, de 300 cilindradas, para poder se “aventurar mais por aí”.
“Sempre tive o sonho de comprar uma moto, mesmo sem saber pilotar. Mas, quando as crianças ainda eram pequenas, eu tinha que usar o pouco que ganhava para comprar comida. Não tinha opção”, lembra. Assim que os filhos pararam de depender dela, Mara decidiu que era hora de realizar seu sonho. Ela, então, começou a trabalhar ainda mais para juntar dinheiro e comprar uma moto. Com quase 60 anos, conseguiu. E conseguiu antes mesmo de ter permissão para pilotar o veículo. “Dinheiro do meu esforço. Nem um afinete emprestado”, diz.
Primeiro, a costureira tentou aprender a pilotar sozinha para se sentir mais segura. “Todos os dias, no fim da tarde, eu ficava, de longe, observando alunos de uma autoescola. Depois, quando eles iam embora, eu tentava. Caí várias vezes”, lembra. Então, após inúmeros tombos, mas um pouco mais confiante, ela se matriculou em uma autoescola.
Preconceito.
“Na primeira aula, o instrutor fez uma cara de espanto, nem disfarçou. Acho que ele esperava uma mocinha”, lembra.
A costureira conta que, a partir daí, teve que enfrentar muitas provocações. “Ele me perguntava por que eu queria aprender a andar de moto depois de velha”, relata. Aos poucos, Mara foi perdendo a vontade de ir às aulas. “A motivação é importante quando vamos aprender algo. Eu sentia falta de incentivo”, afirma.
Sem ânimo, ela abandonou o aprendizado. “Vendi a moto para o ex-marido da minha filha e parei de ir à autoescola”, conta. Mas, os dias passaram, e a costureira decidiu que se esforçaria para comprar outra moto e que, desta vez, ninguém mais a faria desistir do seu sonho antigo. O instrutor foi demitido após Mara contar todas as provocações que ouviu dele.
Inseparáveis.
Mara e a moto são inseparáveis. Durante a semana, ela vai e volta do trabalho de moto. Um dos netos vai de carona todos os dias. Mara também entrega os trabalhos que faz na casa das clientes usando o veículo, que carrega uma cestinha especial para as costuras prontas.
Mas é, na verdade, no fim de semana que a costureira se diverte mais com a sua moto. “No dia a dia, é uma correria só. Quando tenho folga, gosto de andar mais devagar, de aproveitar as paisagens”, revela. Ela também adora ir ao ginásio assistir a jogos de futsal e conta que já foi até Curitiba, a quase 360 quilômetros de Guarapuava, dirigindo. “Só me arrependo de não ter começado a pilotar antes”, conclui. (AG)