Quarta-feira, 24 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de setembro de 2025
Foram analisados dados de 12,3 milhões de mulheres por um período de nove anos
Foto: Lyon Santos/MDSUm estudo em parceria entre a Fiocruz e o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, publicado na revista Nature Human Behaviour, indica que o Bolsa Família ajudou a diminuir os casos e as mortes por Aids entre mulheres pobres no Brasil.
A pesquisa concluiu que o programa de transferência de renda está associado a reduções de incidência de Aids e morte pela doença, na comparação com pessoas que não eram beneficiárias.
Os resultados mostraram queda de 47% na incidência da doença e de 55% na mortalidade entre filhas de beneficiárias. Entre as mães, a redução foi de 42% e 43%, respectivamente. Os números foram observados ao monitorar a ocorrência de novos casos de Aids e mortes relacionadas à doença nessa população.
Foram analisados dados de 12,3 milhões de mulheres por um período de nove anos, cruzando informações do Cadastro Único com registros de saúde e mortalidade do Ministério da Saúde.
O subgrupo estudado foi composto por 10,9 milhões de mães e 1,4 milhão de filhas, tratados de forma independente. No caso das filhas, o estudo excluiu situações de transmissão do HIV da mãe para o bebê na gestação ou no parto.
Segundo os pesquisadores, entre mães em situação de pobreza extrema, de cor parda ou preta a redução na incidência de Aids foi de 53%, e de 51% na mortalidade.
Para Andrea Ferreira Silva, autora do estudo e pesquisadora de impacto de políticas públicas, isso mostra a importância de considerar a “interseccionalidade das vulnerabilidades”, quando pobreza, raça e gênero se combinam e ampliam riscos. “Essas mulheres são as mais expostas ao Bolsa Família e também as mais vulneráveis ao adoecimento. O programa funcionou como uma proteção adicional para elas.”
A experiência do Projeto Criança Aids (PCA), que acompanha famílias em situação de vulnerabilidade com crianças vivendo com HIV, ilustra como o Bolsa Família se traduz na vida dessas mulheres.
Segundo Adriana Galvão Ferrazini, presidente do PCA, entre as 20 famílias atendidas pela ONG, 12 recebem o benefício. Destas, todas são pretas ou pardas de escolaridade baixa. “Entendemos que o programa impacta diretamente as pessoas que têm essas condições.”
De acordo com Laio Magno, coautor da pesquisa e doutor em Saúde Pública, o efeito pode ser explicado tanto pela transferência de renda, que melhora a alimentação e reduz situações de risco, quanto pelas condicionalidades do programa, como o acompanhamento em saúde e a exigência de vacinação e pré-natal.
“O Bolsa Família não é só dinheiro. Ele aproxima as mulheres dos serviços de saúde e isso contribui para o diagnóstico e tratamento precoce.”
O trabalho também destaca que mulheres com maior escolaridade se beneficiam mais dos efeitos do programa. A redução na incidência de Aids chegou a 56% entre as mães de extrema baixa renda, de cor parda ou preta e com maior escolaridade. Já a mortalidade nesse grupo caiu 55%. Para os pesquisadores, a educação potencializa o uso dos recursos, melhora a adesão ao tratamento e fortalece a autonomia.
(Com informações do jornal Folha de S.Paulo)