Segunda-feira, 10 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de março de 2023
Jair Bolsonaro passou a se articular diretamente na criação da Comissão Mista de Inquérito (CPMI), que mira os atos extremistas de 8 de janeiro.
Ao longo desta semana, o ex-presidente telefonou para parlamentares que integraram sua base para pedir empenho em tirar a comissão do papel e pediu detalhes de como anda o processo. Jair Bolsonaro segue nos Estados Unidos. Apesar de ter dito que voltaria ao Brasil em março, ele já sinalizou ao seu partido, o PL, que pode estender sua permanência naquele país.
Aliados do capitão no Congresso traçaram uma estratégia referente à CPMI que agradou a Jair Bolsonaro. Eles querem usar a comissão para tentar buscar provas de que o governo Lula teria conhecimento do risco dos ataques e que teria permitido a sua realização para acabar com o acampamento em frente ao Exército. Os bolsonaristas avaliam que esse caminho poderia ensejar um pedido de impeachment do petista.
A tese criada por integrantes da oposição não tem respaldo em nenhuma investigação sobre os atos golpistas conduzidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal. Animado com a ideia, o ex-presidente passou a empenhar-se na iniciativa de estimular a criação da CPMI.
Os bolsonaristas travam uma disputa com a senadora Soraya Thronicke (União-MS) para que não seja instaurada uma CPI restrita ao Senado. A avaliação deles é que, se a comissão sobre o tema for conduzida pelo Senado, eles não terão a influência necessária para colocar em prática o plano traçado.
Cronologia
Na semana após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro, apoiadores do então presidente fecharam estradas e passaram a se reunir em frente a unidades militares pedindo a intervenção das Forças Armadas para impedir que Luiz Inácio Lula da Silva tomasse posse. O discurso envolvia o não reconhecimento do resultado das urnas, que foram seguidamente questionadas por Bolsonaro ao longo do mandato, sem nunca ter apresentado qualquer prova de irregularidade.
Apesar de algumas ações isoladas de forças de segurança, que liberaram as estradas, os atos antidemocráticos perduraram ao longo da transição, com a conivência das Forças Armadas, responsáveis pelas áreas nos arredores de unidades militares.
Ainda durante a transição, o escolhido por Lula para assumir o Ministério da Justiça, Flávio Dino, prometeu desmobilizar os acampamentos golpistas logo na primeira semana de governo. A questão se tornou um ponto de divergência no novo governo. O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, defendia que a retirada dos manifestantes fosse feita de forma negociada, para evitar reações que pudessem resultar em violência. Após tomar posse, Múcio revelou ter parentes entre os acampados e qualificou os atos como “demonstração da democracia”.
Após uma aparente desmobilização na semana passada, com a posse de Lula e a viagem de Bolsonaro para os Estados Unidos, grupos de bolsonaristas passaram a convocar manifestantes a se dirigir a Brasília para retomar os protestos no fim de semana. Mais de cem ônibus foram fretados, em diversas cidades do País, para levar os interessados a participar dos atos na capital federal.
A mobilização ligou o alerta em Dino, que convocou reunião com a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal. Na véspera, ele também autorizou a Força Nacional a agir para conter os manifestantes.
O reforço na segurança, porém, não foi suficiente. Manifestantes furaram com facilidade bloqueios montados pela Polícia Militar do Distrito Federal, que foi acusada por Lula de ser leniente com os bolsonaristas.