Sexta-feira, 24 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 1 de março de 2019
Ao intervir pessoalmente para derrubar a indicação de Ilona Szabó, cientista política do Instituto Igarapé, ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, o presidente Jair Bolsonaro quebrou nesta quinta-feira a promessa feita a Sergio Moro de garantir “liberdade total” para nomeações no Ministério da Justiça.
No dia 1º de novembro do ano passado, o presidente explicou, em uma entrevista à imprensa, os termos do convite que havia feito ao então juiz federal de Curitiba para integrar o primeiro escalão do seu governo. Moro, segundo Bolsonaro, queria “liberdade total” para combater a corrupção e o crime organizado e um ministério “com poderes para tal” missão. O presidente acrescentou que a liberdade dada por ele a Moro se estendia a “nomeações”.
“Ele queria liberdade total para combater a corrupção e o crime organizado e um ministério com poderes para tal… Bem como nomeações. Ele tem ampla liberdade realmente para exercer o trabalho lá. Da minha parte, sempre fui favorável a isso. Dei sinal verde”, disse Bolsonaro.
Na última quinta-feira, depois de receber uma ligação do presidente, o ministro Moro teve que retirar a indicação de Ilona Szabó. Escolhida por Moro com o objetivo de garantir que o colegiado tivesse uma composição marcada pela pluralidade de ideias, ela foi desconvidada por causa da reação de apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais.
O motivo do descontentamento: a especialista em segurança pública é uma crítica da liberação de armas-de-fogo à população, uma das bandeiras defendidas pelo atual governo – e por boa parte de quem votou nele. Em entrevista à imprensa após a o veto ao seu nome, a cientista política fez uma avaliação do episódio:
“Teve uma conversa entre o presidente e Sérgio Moro, e o ministro sentiu que não dava para manter a minha nomeação”, confirmou. “Eu lamento, porque a gente não deve ver como inimigas as pessoas que pensam diferente de nós. Acho que a tolerância precisa ser um mote do governo, que tem tantos desafios pela frente.”
Oposição
A revogação da escolha da cientista política movimentou as redes sociais, às vésperas do feriado de Carnaval. Parlamentares da oposição têm acusado Moro de ser fraco e sensível demais às pressões dos apoiadores de Bolsonaro.
“Moro foi covarde ao revogar a nomeação de Ilona Szabó para o conselho de política criminal e penitenciária. Um fraco”, postou no Twitter a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Já o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, adotou um discurso menos incisivo ao condenar a desistência: “Venceu a intolerância e perdeu o respeito ao pluralismo democrático nos conselhos da República”.
“O juiz moralizador trocou a ética da convicção pela da conveniência e submissão”, escreveu na mesma rede social o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ). “Moro desmorona: ‘desnomeia’ a cientista política Ilona Zsabó, que considerava muito qualificada (e é!) para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária”.
Jandira Feghali (PCdoB-RJ), por sua vez, considerou que “o recuo do ministro da Justiça mostra que o seu discurso escorreu pelo ralo tem tempo. O valor técnico, tão amplamente defendido pelo governo, não parece ser tão importante assim. Desastre”.
Houve críticas mesmo entre deputados da base do governo. O deputado Alexandre Leite (DEM-SP), por exemplo, escreveu: “Constrangedora a nomeação de Ilona e ainda mais constrangedora é sua exoneração. O governo deve melhorar a sua comunicação e alinhar bem as nomeações antes de publicá-las. O presidente foi eleito com determinadas bandeiras e acaba sendo vítima dele mesmo”.