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Mundo Brasil e Argentina: 200 anos de uma relação diplomática que foi do fracasso à aliança estratégica

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Presidentes dos dois países se encontram nesta segunda-feira. (Foto: EBC)

Véspera de novo encontro do presidente argentino Alberto Fernández com seu colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, esse domingo (25) marcou os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. Trata-se de uma das alianças mais estratégicas da América Latina, embora os primórdios dessa ligação tenham sido marcados por problemas e impasses.

Em 25 de junho de 1823, as Províncias Unidas do Sul ou Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina) foram o primeiro país a reconhecer a Independência do Brasil em relação a Portugal (1822) e o seu sistema de governo monárquico – único em todo continente.

Essa chancela internacional chegou por meio de uma carta escrita pelo então ministro de Governo das Províncias Unidas do Sul, Bernardino Rivadavia, ao primeiro chanceler do Império brasileiro, José Bonifácio de Andrada e Silva.

Entretanto, além de expressar que “o governo de Buenos Aires celebrava com a mais plena satisfação a Independência do Brasil”, o ministro argentino indicava que “queria tratar definitivamente da evacuação da Faixa Oriental”, que depois se tornaria o Uruguai.

Detalhes: sete anos antes, em 1816 o atual Uruguai – chamado de “Banda Oriental” (Faixa Oriental) pelas Províncias Unidas do Sul e de “Província Cisplatina” pelo Brasil – havia sido ocupado pelo Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, sendo então incorporado ao território brasileiro.

Mas a Argentina, cuja declaração de Independência se deu em 1816 embora só tivesse o primeiro reconhecimento em 1821 (justamente por parte de Portugal), entendia a ocupação como uma invasão de seu território.

“Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado e de Relações Exteriores do Gabinete do Brasil, este Governo celebrou com a mais plena satisfação a Independência do Brasil e o estabelecimento de um Governo que satisfaz as suas necessidades”, começava a carta de 25 de junho de 1823.

A mensagem foi levada pelo primeiro representante diplomático de Buenos Aires à capital do Império, o Rio de Janeiro, para “estabelecer relações entre os dois governos”. O presbítero argentino José Valentín Gómez tornou-se, assim, o primeiro diplomata estrangeiro no Brasil independente.

No dia 5 de agosto daquele ano, Valentín Gómez se apresentou a José Bonifácio. Se a carta marca a formalização do primeiro reconhecimento internacional da Independência do Brasil, essa reunião marca o começo formal das relações diplomáticas entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Sul. Essas relações, porém, não foram amistosas.

Valentín Gómez procurava abrir negociações para que o Brasil se retirasse do Uruguai, mas o objetivo fracassou. O Imperador D. Pedro I estava decidido a ficar com a margem direita do Rio da Prata, devido à importância estratégica e portuária de Colónia do Sacramento e de Montevidéu.

Por esse motivo, em maio de 1825 ele designou Antonio José Falcão da Frota como “agente político do Império do Brasil”, mas o diplomata também fracassou no objetivo de fazer as Províncias Unidas do Sul desistirem da Província Cisplatina.

Rompimento

No dia 4 de novembro de 1825, a Argentina rompeu relações diplomáticas com o Império do Brasil. Em 10 de dezembro de 1825, o Brasil declarou formalmente guerra às Províncias Unidas do Sul. A guerra com a Argentina duraria três anos, até 27 de agosto de 1828: do acordo de paz mediado pela Inglaterra nasceria o Uruguai como estado-tampão.

Esse clima de guerra e de desconfiança permaneceu ao longo da História. Até que na década de 1980 os dois países, com suas democracias em processo de restauração pós-ditadura militar, selaram uma aliança total, embrião da integração regional.

Um passo decisivo para essa aliança foi a abertura dos segredos nucleares. Em um caso único no mundo, em 1991 os dois países criaram a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc), trocando a corrida por uma bomba nuclear pela confiança mútua. Foi um ponto de não-retorno no processo de integração.

Desde então, o período de maior distanciamento entre os dois países foi entre 10 de dezembro de 2019, data da posse do atual presidente argentino, Alberto Fernández, e 31 de dezembro de 2022, último dia de governo do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Durante três anos, por razões ideológicas, Bolsonaro e Fernández não se reuniram presencialmente.

Porém, desde que Lula ganhou as eleições, em outubro passado, Alberto Fernández já se reuniu com o seu amigo brasileiro cinco vezes, sendo a desta segunda-feira a sexta vez. O sétimo encontro já está marcado para o dia 4 de julho, durante a Cúpula do Mercosul.

União física

Na visita anterior de Alberto Fernández a Brasília, em 30 de maio passado, o Brasil formalizou o financiamento para a construção de um gasoduto entre a reserva argentina de Vaca Muerta, a segunda maior jazida de gás de xisto e a quarta de petróleo não convencional do mundo, até o Sul do Brasil.

Brasil e Argentina também intensificaram a integração de energia elétrica que permite um país trocar energia com o outro em tempos de maior demanda de um e de maior produção do outro.

Se no passado recente até mesmo a bitola dos trilhos ferroviários era diferente para impedir que um país invadisse o outro, há 40 anos, tudo é feito para reforçar uma aliança estratégica, plataforma de inserção internacional dos dois países.

No campo comercial, o Brasil é o principal mercado para os produtos argentinos e, embora para o Brasil a Argentina seja atualmente o terceiro maior mercado, a Argentina é o país que mais produtos industrializados compra do Brasil, aqueles que mais empregos geram para os brasileiros.

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