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Colunistas Brasil não precisa virar uma China para investir melhor

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

O debate econômico brasileiro costuma oscilar entre dois extremos pouco produtivos: de um lado, a crença de que apenas o livre mercado é capaz de alocar recursos de forma eficiente; de outro, o temor de que qualquer protagonismo maior do Estado nos conduza, inevitavelmente, a um modelo estatizante ou ideologizado. A experiência chinesa, frequentemente mal compreendida, ajuda a desmontar essa falsa dicotomia.

A China vem demonstrando, de maneira pragmática, que empreendedorismo e inovação não são monopólio de economias liberalizadas nos moldes ocidentais. O país abriga um setor privado dinâmico, competitivo e inovador, responsável por avanços expressivos em tecnologia, manufatura avançada e energia limpa. No entanto, diferentemente do que ocorre em economias de mercado tradicionais, é o Estado, e não o capital privado, que define a direção estratégica dos investimentos.

O Estado chinês formulou políticas industriais claras, coordenou investimentos em setores estratégicos e utilizou o sistema financeiro como instrumento de desenvolvimento. O resultado se traduz em liderança global em energia renovável, domínio de cadeias produtivas críticas e capacidade de planejamento que atravessa décadas.

Essa constatação leva a uma conclusão essencial para o debate brasileiro: o Brasil não precisa se transformar em um país comunista para melhorar a eficiência da alocação de recursos públicos, especialmente em infraestrutura, logística, energia e inovação tecnológica. O que está em jogo não é ideologia, mas capacidade institucional.

Esse ponto é destacado pelo economista político Jostein Hauge, professor da Universidade de Cambridge, ao analisar o papel do chamado “Estado empreendedor”. Para ele, o sucesso de países como a China decorre menos do grau de intervenção estatal e mais da qualidade dessa intervenção: um Estado capaz de assumir riscos, coordenar investimentos e criar mercados, em vez de atuar apenas como regulador ou corretor de falhas.

No Brasil, os obstáculos para que o Estado exerça esse papel são conhecidos e persistentes. O primeiro problema é a instabilidade política e institucional. A fragmentação do sistema político e as constantes mudanças de orientação econômica tornam quase impossível a construção de estratégias de longo prazo. Projetos estruturantes são frequentemente interrompidos, redesenhados ou abandonados conforme o ciclo eleitoral.

O segundo entrave é a visão excessivamente contábil do Estado. Regras fiscais rígidas, embora relevantes para a estabilidade macroeconômica, acabam por tratar o investimento público como despesa corrente. Falta distinguir gasto improdutivo de investimento estruturante, aquele que amplia a capacidade produtiva do país e gera retorno econômico e social no tempo.

Há também um problema no sistema financeiro, pouco orientado ao desenvolvimento. Ao contrário do modelo chinês, no qual bancos públicos direcionam crédito para setores estratégicos, o Brasil possui um sistema fortemente voltado ao curto prazo, com baixa disposição para financiar projetos produtivos de maior risco e maturação longa, como infraestrutura e inovação, honrosa exceção feita ao papel do BNDES.

Soma-se a isso a ausência de políticas industriais consistentes. O país alterna momentos de ativismo descoordenado com longos períodos de omissão estratégica, tratando a política industrial ora como panaceia, ora como heresia econômica. Falta continuidade, avaliação e alinhamento com objetivos nacionais claros.

Por fim, há um fator cultural relevante, com uma desconfiança generalizada em relação ao Estado. Escândalos de corrupção e má gestão consolidaram a ideia de que o poder público é, por definição, ineficiente. Essa percepção bloqueia o debate sobre como fortalecer suas capacidades técnicas, burocráticas e de planejamento, condição indispensável para qualquer projeto de desenvolvimento. A lição chinesa, portanto, não é a de importar um modelo autoritário ou estatizante, mas a de recuperar algo que o Brasil perdeu ao longo do tempo: a noção de projeto nacional.

(Instagram: @edsonbundchen)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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