Sábado, 04 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de março de 2023
Mais de um terço das brasileiras acima de 16 anos já sofreram violência física ou sexual provocada por parceiro íntimo ao longo da vida, revelou uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Datafolha.
Conforme o levantamento, 33,4% das mulheres vivenciaram violência física ou sexual (21,5 milhões); 32,6% foram vítimas de violência psicológica, com insultos, humilhações e xingamentos proferidos de forma reiterada (21 milhões); 24,5% afirmaram ter sofrido agressões físicas como tapa, batida e chute (15,7 milhões), e 21,1% foram forçadas a manter relações sexuais contra sua vontade (13,6 milhões).
“O percentual de mulheres que sofreu alguma forma de violência por parceiro íntimo chega a 43% (27,6 milhões) se expandirmos os resultados para as mulheres que afirmaram ter sofrido violência psicológica, como humilhações, xingamentos e insultos de forma reiterada”, destacou o estudo.
Mundo
Enquanto isso, a média mundial aponta que 27% das mulheres com idade entre 15 e 49 anos experimentaram violência física ou sexual provocada parceiros, 6,4% a menos que no Brasil.
O número global, publicado em 2021, foi baseado em dados de 366 estudos feitos em 161 países entre 2000 e 2018.
Entre os dias 9 e 13 de janeiro de 2023, 1.042 mulheres com 16 anos ou mais foram entrevistadas em 126 municípios de pequeno, médio e grande porte. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos na amostra nacional e de três pontos para mais ou para menos na amostra do módulo de autopreenchimento.
Brasil
A média brasileira acima da mundial não surpreendeu a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.
“Estamos falando de um país com um histórico escravocrata e profundamente desigual, em que as relações interpessoais sempre foram pautadas pela violência. E isso não é restrito à violência de gênero. Daí acrescenta-se a este contexto uma outra camada, que é a de uma sociedade machista e patriarcal, em que a desigualdade entre homens e mulheres é historicamente a regra”, afirma.
“Agora além deste contexto mais macro, estamos também falando de um País que regrediu nos últimos anos no debate sobre a igualdade de gênero. A própria criação de um Ministério da Família no governo Bolsonaro foi a evidência máxima disso. Você deixa de focar na mulher, sujeito de direitos, para uma valorização da família como ente a ser preservado. O problema é que essas mulheres estão sofrendo violência dentro de casa, por parte do companheiro ou ex. Então é inegável que esse retrocesso na perspectiva da política pública, somada ao completo desfinanciamento, agravaram a situação”, completa.
Outros números
O estudo abordou também outras manifestações de abuso na rotina das mulheres e fez recortes em relação à idade e raça, por exemplo.
Segundo ele, quase metade das mulheres entre 25 e 34 anos experimentaram alguma forma de violência por parte de parceiro íntimo ao longo da vida (48,9%). A mesma faixa etária também apresentou a maior prevalência de vitimização por violência sexual dentre todas as idades (24,8%). Isso significa que 1 em cada 4 mulheres entre 25 e 34 anos afirmaram ter sofrido alguma forma de violência sexual ou tentativa por parte de um parceiro íntimo;
O estudo apontou que mulheres entre 35 e 44 anos e entre 45 e 59 anos também mostraram índices elevados de violência por parte de parceiro íntimo ao longo da vida: 43,6% e 44,2%, respectivamente. O grupo etário com maior prevalência de agressão física foi o de mulheres de 45 a 59 anos (28,7%).
“Chama a atenção que a vitimização por violência sexual seja similar entre todos os grupos, mas quando a questão trata de violência física, entre negras a prevalência é 8 pontos superior à encontrada entre mulheres brancas”, ressaltaram os pesquisadores.
Agressões por minuto
A pesquisa destacou também que o ano de 2022 foi especialmente difícil para as mulheres no Brasil: todos os indicadores de violência contra a mulher subiram no ano passado.
Nos últimos 12 meses, 28,9% (18,6 milhões) das mulheres relataram ter sido vítima de algum tipo de violência ou agressão, o maior percentual da série histórica. Isso significa que 35 mulheres foram agredidas física ou verbalmente por minuto no país.