Sexta-feira, 02 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 9 de outubro de 2017
O Brasil é um antro de corrupção, uma Sodoma e Gomorra da propina, um País onde a cultura do suborno atinge do presidente da República ao favelado, certo? Uma pesquisa da Transparência Internacional em 20 países da América Latina coloca essa percepção em xeque: o brasileiro é um dos que menos pagam propina para ter acesso a serviços públicos como hospitais e é o mais disposto a denunciar a prática, segundo o levantamento feito com 22.302 pessoas em 20 países.
Entre os brasileiros, 11% dizem ter subornado agentes públicos para conseguir serviços como educação, emissão de documentos ou ajuda da polícia. É a segunda menor taxa. O país só perde para Trinidad e Tobago, com 6%.
No extremo oposto do espectro está o México, onde 51% da população diz ter pago propina para ter acesso a serviços públicos.
Na média do subcontinente, um em cada três habitantes da América Latina e Caribe declara ter pago propina para esse fim, segundo o levantamento. O percentual é mais alto entre os mais pobres (30%) do que entre os mais ricos (25%).
“Propina representa um meio de enriquecimento para poucos e uma barreira significativa para ter acesso a serviços públicos essenciais, particularmente para os mais vulneráveis”, diz José Ugaz, presidente da Transparência Internacional.
A entidade, com sede em Berlim, diferencia a grande corrupção da pequena, segundo Fabiano Angélico, consultor sênior no Brasil. A grande corrupção é definida como abuso para se atingir altos níveis de poder. Já a pequena é a negociação ilícita que vira prática cotidiana.
Lava-Jato
“O brasileiro tem uma percepção de corrupção sistêmica por causa dos grandes esquemas revelados pela Operação Lava-Jato”, afirma Angélico. Já no caso da pequena corrupção, afirma, o país está muito melhor do que o resto da América Latina. Segundo ele, o acesso à educação já foi praticamente universalizado no Brasil enquanto países como Honduras têm de lidar com professores que fraudaram concursos e não têm condições de ensinar nada a ninguém.
“A escola é ruim no Brasil, o hospital é um horror, mas há um mínimo de acesso que não existe em outros países da América Latina”, diz Angélico. Essa diferença explica parcialmente por que o Brasil está em segundo lugar no mapa da propina latino-americano, de acordo com ele.
Políticos e policiais
Políticos e policiais ocupam o topo do ranking daqueles que são considerados os mais corruptos, com 47%. Na Venezuela em crise, a crença de que a polícia é corrupta atinge 73% dos entrevistados. Executivos de empresas (36%) e líderes religiosos (25%) ocupam a parte de baixo dessa tabela.
Há também um aumento na taxa daqueles que acreditam que a corrupção aumentou nos últimos 12 meses: 62% dos entrevistados na América Latina acreditam nessa tendência. A Venezuela lidera o ranking com 87%, seguida por Chile (86%), Peru (86%) e Brasil (79%).
No caso brasileiro, o aumento da percepção está ligado às investigações da Operação Lava-Jato, que revelou um esquema que envolve os principais partidos e as maiores empresas do país.