Terça-feira, 18 de novembro de 2025
Por Amilcar Macedo | 17 de novembro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Nem todo aniversário é uma simples marca no calendário. Há datas que parecem puxar uma linha invisível até o passado e nos lembram de tudo o que foi preciso para chegarmos até aqui. O aniversário de 188 anos da Brigada Militar é um desses momentos. Não se trata apenas de celebrar uma instituição, mas de revisitar uma história que atravessou império, república, guerras, enchentes, cidades inteiras surgindo do chão.
Criada em 18 de novembro de 1837, ainda sob o nome de Força Policial da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, a Brigada nasceu num tempo em que o Estado vivia dividido, violento e incerto. Em plena Revolução Farroupilha, organizar uma força para proteger a população não era só uma necessidade, era questão de sobrevivência. Dali em diante, a corporação foi moldada ao ritmo das grandes turbulências do século XIX, mas nunca perdeu o fio que a sustentava: a defesa do cidadão gaúcho.
Se alguém resolvesse contar a história do Rio Grande apenas a partir da Brigada, já encontraria material de sobra. Haveria o capítulo da Guerra do Paraguai, os registros do interior deserto, as expedições por estradas de terra, o combate ao banditismo, os incêndios nas cidades que começavam a crescer. Haveria também as enchentes que marcaram épocas, desde as mais antigas até as recentes, que exigiram coragem quase diária de quem estava na linha de frente.
Mas talvez a maior força da Brigada não esteja só nos grandes episódios, e sim no cotidiano. No brigadiano que passa na ronda escolar, na dupla que segura a madrugada numa rua deserta, no policial que, sem holofotes, resolve uma briga de vizinhos antes que vire tragédia. É nesse sopro silencioso de presença que a população reconhece a corporação. Quem vive no interior sabe: brigadiano não é só autoridade; é lembrança de alguém que apareceu na hora certa.
Os tempos mudaram, claro. A violência urbana ganhou novas caras, a tecnologia trouxe desafios que ninguém imaginava e o crime atravessou fronteiras digitais. Ser policial hoje exige estudo, preparo técnico e uma paciência que o cotidiano nem sempre oferece. Ainda assim, o espírito permanece o mesmo: proteger vidas, garantir a lei e sustentar a paz onde ela ameaça desabar.
Com 188 anos, a Brigada Militar acumula cicatrizes que não se contam em números e conquistas que não entram nos relatórios. Cada brigadiano que tombou em serviço deixou uma marca que permanece. Cada vida salva, por outro lado, segue ecoando na memória de alguém. É por isso que, quando o Hino Rio-Grandense toca em uma formatura e a tropa se alinha, há sempre um instante de respeito que não se explica, como se muitas gerações marchassem juntas.
Celebrar este aniversário é, acima de tudo, reconhecer a escolha de quem veste a farda: a de servir mesmo quando servir é dolorido, mesmo quando servir exige coragem nos detalhes e não apenas nos grandes atos. É a escolha de estar onde a maioria não quer estar.
A Brigada Militar chega aos seus 188 anos com a experiência de um velho guerreiro que viu de tudo, mas que segue erguido, atento, indispensável. E nós, como sociedade, sabemos que parte da nossa história, e da nossa segurança, passa por esses homens e mulheres que seguem “para frente”, como diz a canção que há décadas embala a corporação.
Parabéns à Brigada Militar. Que siga firme, honrada e próxima de quem mais precisa.
*Amílcar Fagundes Freitas Macedo – Magistrado.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Voltar Todas de Amilcar Macedo