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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

A reeleição de Nayib Bukele eram favas contadas. O Presidente do menor país da América Central, El Salvador, possui uma das mais altas taxas de aprovação do mundo. Seu governo possui mais de 80% de popularidade e tudo indica que tenha sido reeleito com uma margem ainda maior. Ele é o primeiro líder a ser reconduzido no país em oito décadas. Sua fama ainda elegeu uma maioria avassaladora no parlamento.

A popularidade de Bukele está presente no cotidiano dos cidadãos de El Salvador. O país foi durante muito tempo refém das gangues e já teve a mais alta taxa de criminalidade do mundo. Hoje possui níveis suecos. Em 2015, 106 pessoas foram mortas a cada 100 mil habitantes, hoje este número despencou para 2,4.

Fato é que a população em sua esmagadora maioria estava disposta a ceder parcela de sua liberdade em troca de segurança, especialmente diante da situação de caos e pânico vivida pelo país ao longo dos anos. O método Bukele, porém, é polêmico. Hoje, o país vive sem delinquência, porém, com parte de seus direitos ceifados e desde 2022 vive em um estado de exceção que vem sendo prorrogado sucessivamente.

A deterioração democrática iniciou com o fortalecimento e concentração de poder em torno de Bukele e seu partido, o Nuevas Ideas. Em 2021 foi alcançada maioria absoluta nas eleições para a Assembleia Legislativa. Em ato contínuo, parlamentares aprovaram a destituição do procurador-geral de El Salvador e todos os cinco membros da Câmara Constitucional da Suprema Corte.

O preço pago pela população para ter segurança foi alto. O modelo em vigência restringe liberdade de reunião, inviolabilidade de comunicações e correspondências, além de autorizar prisões sem ordem judicial. El Salvador é o país que mais encarcera no mundo como proporção da população. A deterioração democrática do país já foi detectada pelos índices internacionais. Na comparação dos indicadores de democracia liberal (V-Dem) só não está pior do que Venezuela, Nicarágua e Cuba.

El Salvador se tornou uma autocracia eleitoral, assim como tantas outras ao redor do mundo, uma vez que subverte os limites do regime democrático – que está muito além de resultados eleitorais. Seja pelo caminho da esquerda ou direita, a deterioração do Estado de Direito é aquilo que expõe a fraqueza institucional de uma nação e El Salvador vem preenchendo todos os requisitos neste sentido.

Uma população que viveu décadas refém dos bandidos e optou por ceder sua liberdade em troca de segurança, em breve poderá estar diante de um desafio: o que fazer se a autocracia de Bukele começar a cobrar um preço alto demais e a segurança prometida por seu governo se tornar uma solução apenas temporária. Mais do que isso. Se Bukele for o único fiador da segurança, a população estará disposta a viver em uma ditadura? São questões que em breve podem se debruçar sobre os salvadorenhos, porém, com uma resposta que já foi dada por Benjamin Franklin em 1776: “aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade, nem segurança”.

Márcio Coimbra é presidente do Instituto Monitor da Democracia e Conselheiro da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig). Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007).

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