Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 20 de maio de 2022
Uma delegada foi alvo de mandado de busca e apreensão em operação do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco-IE). Ana Lúcia da Costa Barros é adjunta da 34ª DP (Bangu). Ela é casada com o policial penal André Guedes Benício Batalha, conhecido como Gue. Ele estava entre os suspeitos detidos na manhã desta sexta-feira (20). A senha da delegada foi usada para acessar a placa de uma pessoa a pedido de um miliciano. Não se sabe se foi ela ou outra pessoa que buscou a informação. A investigação está em andamento.
O promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) André Luís Cardoso acrescentou que, com o material apreendido nesta sexta-feira, será analisada a participação ou não da delegada na organização criminosa. “Ele (André Guedes Benício Batalha) usava a senha da esposa, delegada de polícia. Foi comprovada a utilização dele, no intuito de passar informações. Até agora, não houve a constatação da participação dela com a milícia, mas pedimos a representação para verificar”, explicou Thiago Neves, delegado titular da Draco.
Ana Lúcia já foi titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) do Centro do Rio. A policial costumava dar orientações para mulheres vítimas de agressões físicas. Uma prisão importante de Ana Lúcia foi a do sargento do Exército Clodoaldo Oliveira da Silva Clementino, de 42 anos, que matou a paulada o aposentado Luiz Antunes Moço, de 60, em Bangu, no começo do ano.
A operação visou a 10 mandados de prisão preventiva e 11 de busca e apreensão contra agentes públicos ligados à maior milícia do Estado. Os alvos de mandados de prisão foram três policiais militares, seis agentes da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) e um miliciano. A ação foi intitulada Heron. A organização criminosa já foi chefiada por Wellington da Silva Braga, o Ecko, morto em confronto com a Polícia Civil em 12 de junho de 2021, na comunidade Três Pontes, em Paciência, Zona Oeste do Rio de Janeiro, e hoje é comandada por seu irmão Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho. Os mandados foram expedidos pela 1ª Vara Criminal Especializada da Capital. Seis pessoas foram presas.
Segundo a investigação, os agentes públicos eram responsáveis pelo repasse de informações privilegiadas aos integrantes da organização criminosa, “sobre segurança pública, posicionamento de viaturas e investigações em andamento”, diz o Ministério Público. Além de repassarem informações sobre grupos rivais, facilitavam a movimentação dos “bondes”, comboios para atividades criminosas, e até escoltavam, com viaturas oficiais, foragidos da Justiça.
De acordo com a Draco, os servidores tinham contato direto com homens de Zinho. O paramilitar é foragido da Justiça e hoje explora toda a Zona Oeste do Rio. A investigação começou com apreensão de um telefone celular, realizada durante uma ação em 27 de abril de 2021, na casa de Francisco Anderson da Silva Costa, o Garça.
Segundo os investigadores, Garça era um dos principais homens de confiança de Ecko e, de acordo com as investigações, era responsável pela contabilidade dos valores da quadrilha, tanto os provenientes das extorsões e taxas, quanto o pagamento de propina a agentes de segurança. Na operação de um ano atrás, o miliciano conseguiu fugir, mas deixou o aparelho, do qual a polícia obteve detalhes do grupo paramilitar. A Polícia Civil acredita que Garça tenha sido morto a mando de Ecko, em virtude de uma divergência na quadrilha.
Na denúncia, o promotor de justiça André Luis Cardoso destaca que era preciso pedir um mandado de busca e apreensão para a residência da delegada Ana Lúcia, após os investigadores encontrarem uma mensagem no celular do miliciano Garça. Em trecho do pedido ele explicou:
“Pretende a autoridade policial apreender demais elementos de convicção com a medida cautelar, principalmente telefones celulares, anotações, armas de fogo, havendo a possibilidade de apreensão de dinheiro em espécie oriundo da atividade miliciana. Essa prova é essencial para a demonstração do vínculo associativo dos investigados, robustecendo o farto material acostado aos autos, com a possibilidade de trazer para a investigação elementos que apontem outros agentes públicos nessas atividades”.
Cardoso continua: “Enfatiza o Ministério Público que a busca e apreensão dos objetos acima descritos, ainda, possibilitará colher prova de esquemas de corrupção e extorsão, praticados por agentes públicos, no âmbito da atividade de milícia que ora se investiga. Ainda, o repasse de informações privilegiadas de segurança pública, posicionamento de viaturas, investigações em andamento, corrupção e pagamentos entre milicianos e serventuários do sistema prisional, ou seja, tudo relacionado às atividades desenvolvidas pelos agentes públicos.
Uma forte evidência é a conversa entre Garça e o policial penal Guedes sobre a movimentação de viaturas da Polícia Civil. “Guedes utiliza a senha e os acessos de sua esposa, a Delegada de Polícia Civil Ana Lucia, para ingressar na intranet da Secretaria de Estado da Polícia Civil”, diz a denúncia. As informações são do jornal O Globo.