Terça-feira, 01 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 4 de junho de 2024
O resultado da eleição presidencial do México não é surpresa. No entanto, o que vai acontecer a seguir ainda é uma incógnita. Claudia Sheinbaum se tornará a próxima presidente do país, mas está longe de ser claro se ela tem a vontade ou a capacidade de se libertar das políticas ou da influência pessoal de seu padrinho político, o populista Andrés Manuel López Obrador. A luta que se aproxima influenciará o destino dos 126 milhões de pessoas do México, mas também tem implicações enormes para imigração, crime organizado e comércio nos Estados Unidos, seu gigantesco vizinho do norte.
Ela vai assumir o poder com dois grandes desafios pela frente: a violência e a imigração. O primeiro é um problema que persiste há décadas e está interligado com as guerras entre os cartéis de droga do país. Nos últimos seis anos, López Obrador adotou a política de “Abrazos, no balazos”, que pode ser traduzida como “abraços, não tiros”, com o discurso de que combate ao crime deve se dar a partir de suas raízes, como a pobreza. “Deve se enfrentar o mal com o bem”, costumou dizer durante seu mandato. As promessas de pacificação, porém, não colocaram fim aos conflitos.
Mais que um tema central, a violência atingiu em cheio a campanha eleitoral, considerada a mais sangrenta na história recente do México. Foram 82 assassinatos relacionados ao processo eleitoral, sendo 34 de candidatos ou aspirantes, e os números tendem a ser ainda maiores. Desde que o levantamento foi publicado pelo think tank Laboratório Electoral, não pararam de circular vídeos de políticos locais assassinados, corpos crivados de balas estendidos no chão, comícios encerrados por tiros à queima roupa.
Segundo analistas, a violência política é um reflexo de como os cartéis avançam para ampliar o seu domínio sobre o México. Em busca de influência nas polícias municipais e estaduais, os criminosos tentam cooptar candidatos a partir do financiamento de campanhas e tem retirado da disputa, na base da bala ou da ameaça, os políticos que contrariam seus interesses ou foram cooptados por grupos rivais.
O segundo desafio, a imigração, passou ao largo das discussões políticas antes das eleições, mas é um tema de preocupação crescente no México devido às relações com os Estados Unidos. “A relação com os Estados Unidos é a relação mais difícil para nós, mexicanos”, disse o analista político Agustín Basave. “(O ex-presidente Enrique) Peña Nieto e depois López Obrador cometeram erros graves na relação com Donald Trump. O México está fazendo o trabalho sujo para os Estados Unidos em matéria de imigração. Isso é vergonhoso.”
Os dois países têm um acordo que prevê que o México reforce o controle da fronteira para impedir que os imigrantes cheguem ao solo americano e tem atravessado governos. “O que existe atualmente é a continuação da política proposta por Trump, que levou o México a se tornar um filtro para impedir a imigração”, afirmou o analista Roger Bartra. “Trata-se de uma política repressiva a serviço dos Estados Unidos e Joe Biden também se aproveitou disso”, acrescenta.
O México prendeu, no ano passado, o número recorde de 782 mil pessoas em situação irregular, um aumento de 44% em relação a 2022. Discretamente, o governo também tem colocado imigrantes em ônibus e os levado para longe dos Estados Unidos, em resposta à pressão do governo americano para conter o fluxo na fronteira, que colocou Joe Biden na mira do Partido Republicano em ano de eleição nos EUA. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.