Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 30 de dezembro de 2023
Essas drogas imitam o GLP-1, hormônio que naturalmente nos faz sentir saciados depois de comer.
Foto: ReproduçãoDas revistas de fofoca à capa da Science: os análogos do GLP-1, classe de medicamentos usada atualmente para tratar diabetes tipo 2 e obesidade, moldaram um debate durante todo o ano.
Teve início com notícias de celebridades, como Elon Musk e Oprah Winfrey, que falaram abertamente sobre o seu uso. A popularidade acendeu um debate cultural em torno da obesidade – não como uma questão moral ou de falta de vontade, mas como uma doença crônica. Desde os tempos do Botox e do Viagra, nenhuma outra droga entrou no imaginário coletivo desta forma.
Depois, os remédios pularam para as páginas de economia do noticiário. As duas formulações comerciais mais populares, o Ozempic e o Wegovy, tornaram sua empresa fabricante, a dinamarquesa Novo Nordisk, a mais valiosa da Europa – salvando o país de uma recessão.
A todo tempo, os remédios não deixaram de figurar entre as principais revistas científicas, com trabalhos que têm não apenas confirmado a eficácia inédita para a perda de peso, como mostrado uma consequente redução de acidentes cardiovasculares. É nesse contexto que os análogos do GLP-1 chegam ao fim do ano sendo eleitos “o avanço científico de 2023” pela prestigiosa publicação Science.
Na matéria sobre a escolha, intitulada “A obesidade encontra seu adversário”, o periódico destaca que os medicamentos “de grande sucesso” se mostram promissores ainda para uma ampla variedade de outras doenças, com estudos para o tratamento de quadros de dependência e condições neurológicas, como Alzheimer e Parkinson.
O que são os análogos de GLP-1?
Essas drogas imitam o GLP-1, hormônio que naturalmente nos faz sentir saciados depois de comer. Mas cada vez eles fazem isso de maneira melhor e por mais tempo. Embora sejam prescritos desde 2017, nos últimos anos os seus efeitos expandiram-se significativamente.
A semaglutida (molécula comercializada como Ozempic e Wegovy) pode produzir uma redução de aproximadamente 15% no peso total, um percentual histórico que nunca havia sido alcançado antes com outros medicamentos.
“Mas talvez o mais importante de tudo, além da perda de peso em si, é que estão demonstrando uma redução na morbimortalidade”, afirma Juan José Gorgojo, chefe do serviço de nutrição do Hospital Universitário Fundación Alcorcón, na Espanha.
Um estudo publicado este ano mostrou que a semaglutida reduz o risco de ataques cardíacos e derrames em até 20% em pessoas com sobrepeso. “Além disso, este mesmo medicamento demonstrou benefícios clínicos em pacientes com insuficiência cardíaca”, acrescenta o médico.
Para ele, “são motivos mais que suficientes para que seja destacado como um dos avanços do ano”. A Science também destacou esses “dois ensaios clínicos históricos”, sublinhando que demonstraram benefícios “que vão além da perda de peso”.
Além disso, alguns efeitos colaterais inesperados que os análogos do GLP-1 tiveram têm chamado atenção. Muitos pacientes começaram a relatar modificações positivas em comportamentos de dependência, abrindo portas para possíveis tratamentos para quadros do tipo futuros.
A publicação também menciona ensaios clínicos em andamento com a classe de fármacos para doenças neurodegenerativas que contam com alternativas limitadas hoje – o Alzheimer e o Parkinson, “com base, em parte, em evidências de que eles têm como alvo a inflamação cerebral”. Segundo a plataforma Clinical Trials, dos Estados Unidos, resultados iniciais sobre o Alzheimer são esperados para 2025.