Sexta-feira, 17 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 26 de maio de 2018
A crise dos caminhoneiros fez com que o governo e a própria base aliada do Planalto no Congresso entrassem em choque. Na sexta (25), o ministro Carlos Marun, da Secretaria de Governo, afirmou que a atuação de parlamentares no episódio foi um “jogo para a plateia, inconsequente”. Já o presidente da Câmara e pré-candidato do DEM ao Planalto, Rodrigo Maia, rebateu no mesmo tom, dizendo que o emprego de militares contra os grevistas foi a “resposta de um governo fraco” à crise. Enquanto isso, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), se esquivou de responsabilidade, disse que o problema é do Executivo e condenou a política de preços da Petrobras.
A troca de farpas entre as cúpulas do Palácio do Planalto e do Congresso coincide com o avanço da agenda eleitoral. Na mesma semana em que o presidente Michel Temer lançou a pré-candidatura de Henrique Meirelles à sucessão presidencial pelo MDB, a greve dos caminhoneiros provocou uma disputa pelos holofotes entre os políticos que alimentou ainda mais o caos País afora.
No centro do embate entre Executivo e Legislativo está a aprovação, liderada por Rodrigo Maia, do projeto que zera a alíquota de PIS/Cofins incidente sobre o óleo diesel. O anúncio deu novo impulso à greve dos caminhoneiros, que condicionaram o fim dos bloqueios nas estradas à votação da matéria no Congresso. Após a aprovação simbólica, restou ao Planalto atacar o caráter eleitoreiro da votação.
“Houve um jogo para a plateia, inconsequente. Se fez um cálculo errado, um assessor de alto nível, a princípio…. Ontem me disseram que é um excelente consultor… Bom, imagina os ruins, então, se um excelente consultor fez um erro de cálculo de R$ 9 bilhões em uma conta de mais e menos. Foi um péssimo momento do parlamento brasileiro, especialmente da Câmara”, disse Marun.
Foi um assessor de Rodrigo Maia que realizou o cálculo do impacto da redução da alíquota do PIS-Cofins do combustível, ignorando um rombo de quase R$ 9 bilhões. Diante da constatação do erro, Maia, que tinha se apressado para liderar a resposta aos caminhoneiros, culpou o Executivo ao lembrar que “foi irresponsabilidade do governo aumentar o PIS/Cofins de R$ 0,29 pra 0,46 no diesel”. E devolveu os ataques de Marun ao criticar o uso das Forças Armadas contra a greve.
“Não foi a melhor reação (o uso das Forças Armadas). Resposta de um governo fraco. Acho que o Exército é desnecessário. Infelizmente, as palavras do presidente estão tendo pouca credibilidade entre as pessoas que estão se manifestando. A utilização das Forças Armadas não parece o passo correto neste momento. Os manifestantes estão dialogando. Temos que tomar cuidado”, disse o presidente da Câmara.
Já o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), fez questão de tentar tirar do Legislativo o ônus pelo agravamento da crise. “Essa crise não é do Congresso. Vocês querem o tempo todo trazer essa crise para dentro do Congresso. Quem define preços de Petrobras é o Executivo. Cabe ao Executivo mudar a política de preços da Petrobras. E no meu entendimento ela está equivocada”, reagiu o senador.
Com imagens de bloqueios em estradas nas principais rodovias brasileiras, o presidente da Câmara chegou a gravar um vídeo para as redes sociais em que aparecia ao lado do presidente do Congresso, Eunício Oliveira (MDB-CE), e dos líderes do governo Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e André Moura (PSC-SE). Em pré-campanha, Maia atropelou o debate com a área econômica do governo e decidiu tomar a dianteira do anúncio das medidas que poderiam baixar o preço do diesel. O vídeo foi gravado depois que o presidente Michel Temer informou a Maia, por telefone, que o governo decidiu zerar a Cide — um dos tributos dos combustíveis — e estudava a redução da alíquota do PIS-Cofins. A ideia fora discutida no fim de semana.
O caminho escolhido pelo parlamentar para enfrentar a crise acabou levando Eunício Oliveira a se arrepender de ter gravado o vídeo ao lado de Maia. Concluída a votação, restou a Eunício o fardo de ter que discutir com o governo o rombo bilionário que a proposta provocaria.
Um pouco antes de a redução da alíquota de PIS/Cofins entrar em discussão no plenário, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, chegou ao local. Visivelmente preocupado, tentou alterar o conteúdo do texto. Na lateral do plenário, fez uma reunião com o relator Orlando Silva (PCdoB-SP), e os líderes do governo Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e André Moura (PSC-SE). “Em briga de branco eu não me meto”, disse Orlando Silva, ao sair da roda de conversa.