Domingo, 15 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 15 de junho de 2025
O cenário é mundo hipotético, mas sua realidade não está muito distante da nossa. Um ególatra que se acha o rei do mundo deu início a uma guerra econômica que, pouco tempo depois, se transformou em um conflito nuclear. Um porão, um estacionamento subterrâneo, o metrô ou o pátio de um grande edifício rapidamente se tornam refúgios para milhares de pessoas ao redor do mundo tentando sobreviver.
As probabilidades de catástrofes globais variam conforme o tipo de evento. Desastres naturais como enchentes, terremotos e, em geral, eventos climáticos extremos são relativamente comuns e podem causar grandes perdas. No entanto, eventos como uma pandemia, uma tempestade solar ou um conflito nuclear são menos prováveis, mas poderiam ter consequências devastadoras.
A alimentação se tornaria um dos maiores desafios para garantir a sobrevivência da população. Um novo estudo revela quais alimentos teriam mais chances de ser cultivados caso ocorresse uma catástrofe global. A pesquisa, liderada por um conjunto de instituições afiliadas à Adapt Research, utilizou estudos anteriores para determinar as culturas ideais a serem plantadas após um evento catastrófico.
Também foi considerado uma meta-análise sobre agricultura realizada em 60 cidades ao redor do mundo. O objetivo era encontrar a maneira mais eficiente de alimentar uma pessoa utilizando a menor quantidade de terra possível.
A cidade de referência considerada era de médio porte, com 90 mil habitantes e alguns espaços verdes disponíveis para cultivo, incluindo parques, quintais e canteiros centrais.
Vegetais resistentes
Em condições climáticas normais, o chícharo (uma leguminosa) é um alimento rico em proteínas e cresce bem em ambientes de agricultura urbana, que minimizam a necessidade de terra.
Em caso de guerra nuclear ou outros cenários como a erupção de um supervulcão ou o impacto de um grande asteroide, a luz solar seria bloqueada, o que provocaria uma queda nas temperaturas e dificultaria a fotossíntese das plantas. Nesse cenário, segundo o estudo publicado recentemente na revista Plos One, uma combinação mais resistente seria espinafre e beterraba.
Um problema é que a cidade não conseguiria alimentar toda a sua população. Se os alimentos forem cultivados apenas dentro dos limites urbanos, a terra disponível conseguiria alimentar apenas 20% da população. Esse número cai para cerca de 16% durante o inverno nuclear. Para alimentar o restante da população, seriam necessárias terras nas áreas periféricas da cidade, representando aproximadamente um terço da área urbana construída.
Outros cultivos recomendados para condições extremas incluem acelga, repolho, couve-de-bruxelas, rúcula e brócolis. Também se recomenda manter armazenado mel, um alimento nutritivo e sem prazo de validade.
A qualidade do solo pode variar, e as análises consideram que os sistemas de abastecimento de água continuem funcionando. Em áreas próximas às cidades, a batata é ideal para cenários climáticos normais. Uma batata média contém cerca de 42 gramas de vitamina C. Também é rica em minerais como cálcio, magnésio, fósforo e potássio. Pode ainda ser fermentada para produzir álcool.
Uma combinação de 97% de trigo e 3% de cenoura é a proporção ideal durante um inverno nuclear, pois essas culturas têm maior tolerância a temperaturas mais baixas. Isso não significa que a sobrevivência deva depender de um único vegetal, mas são apresentadas algumas das alternativas energéticas mais viáveis, que também servem como aprendizado para expandir as práticas de agricultura urbana mesmo fora de tempos de crise.
Pequenos produtores
O setor agrícola é indispensável para o desenvolvimento econômico, e grande parte da produção agrícola mundial vem de pequenos produtores. A escolha de cultivos mais eficientes, que aumentem a oferta alimentar e reduzam o impacto ambiental, também envolve a adoção dessas práticas em todas as esferas da vida cotidiana, não apenas no meio rural.
A agricultura de pequena escala garante o sustento de milhões de famílias. Segundo a FAO, representa cerca de 50% do PIB agrícola dos países latino-americanos e fornece aproximadamente 70% dos alimentos consumidos na região. No entanto, esses pequenos produtores enfrentam grandes desafios: altos índices de pobreza e analfabetismo, localização em áreas de difícil acesso, cultivo de terras marginais e, frequentemente, falta de serviços básicos, crédito e assistência técnica.
Em países como o México, soma-se uma variável extra: o assédio do narcotráfico. Como se não bastasse, as mudanças climáticas agravam ainda mais a vulnerabilidade dos pequenos agricultores, já que as variações de temperatura e precipitação afetam significativamente suas chances de obter uma boa colheita.
A catástrofe não precisa ser uma guerra ou pandemia — a escassez de água, cada vez mais evidente, coloca pressão sobre o sistema alimentar e ameaça o fornecimento tradicional de trigo, milho e arroz, que compõem quase metade das calorias que consumimos.
É necessário experimentar novas formas de alimentação. Existem cultivos pouco conhecidos mundialmente, mas com alto potencial. O bambara, parente do amendoim, é um exemplo. Comum no continente africano, é rico em proteínas e cresce bem em climas muito quentes e solos pobres. Outros cultivos resistentes à seca, mais conhecidos nas Américas, incluem quinoa, amaranto, batata-doce e sorgo. O aloe vera também oferece benefícios além dos nutricionais.