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Por Redação O Sul | 22 de janeiro de 2020
Enquanto as vendas oficiais de smartphones no Brasil cresceram menos de 1% em 2019, o mercado paralelo – representado por canais de comercialização que, embora legais, não fazem parte da rede de distribuição dos fabricantes – quadruplicou de tamanho. Projeção da empresa de inteligência de mercado IDC Brasil indica que 3,2 milhões de smartphones foram comercializados no país ao longo do ano passado. O total é o maior da década.
A expansão do “mercado cinza” desde o primeiro trimestre de 2019 está relacionada à chegada de empresas chinesas ao Brasil, diz Renato Meireles, analista da IDC Brasil. Embora a consultoria não cite marcas específicas, foi amplamente divulgada a estreia oficial no país da chinesa Huawei no segmento de celulares, em junho. Fora do país desde 2016, a chinesa Xiaomi retornou em 2019.
“As fabricantes chinesas trouxeram muitas novidades. Produtos robustos [em termos de tecnologia] com tíquete médio baixo”, diz Meireles. As novidades despertaram o interesse do consumidor que, sensível à questão do preço, pesquisou para comprar. A saída para adquirir os aparelhos a preços mais em conta foi recorrer a sites e lojas que comercializam aparelhos contrabandeados.
O dado mais recente disponível da IDC Brasil mostra que no terceiro trimestre de 2019 foram vendidos no mercado cinza 1,28 milhão de smartphones. O total é 537,3% superior ao do mesmo período de 2018. A estimativa é que as vendas de aparelhos que entraram ilegalmente no país, sem cobrança de impostos, tenha somado 3,2 milhões de unidades em 2019. “Esse é o maior volume para a categoria desde 2010”, diz Meireles. A IDC projeta vendas totais de 47,9 milhões de celulares em 2019.
Em dezembro, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) já havia alertado para a expansão no número de celulares contrabandeados vendidos pela internet. Na época, a projeção era de que fossem vendidos em 2019 no mercado paralelo 2,7 milhões de smartphones.
Fonte de mercado calcula que 86% dos aparelhos que abastecem o mercado cinza no Brasil são produzidos pela Xiaomi. O modelo Mi 9 – que custa R$ 4.299 no site da empresa – pode ser adquirido por até R$ 1.800 em sites que reúnem diversos lojistas.
A diferença de preço se justifica pelo fato de os smartphones disponíveis no mercado cinza entrarem no Brasil vindos do Paraguai – sócio do Brasil no Mercosul -, sem pagar impostos de importação. Cerca de 80% do volume de celuçares que entram no Paraguai acabam no Brasil, segundo a IDC.
A justificativa é de que no Brasil a carga de tributos incidente sobre os celulares importados é bem superior à de outros países da região, como Argentina e Uruguai. “No Brasil, a carga tributária que recai sobre o celular importado varia entra 61% e 80%”, esclarece o tributarista Wolmar Esteves, sócio do escritório Bichara Advogados.
Sobre o valor de um telefone móvel importado legalmente são cobrados, em média, 60,75% em impostos só para entrar no país. “A relação estatística entre alta tributação e contrabando é comprovada”, sustenta Esteves. A carga tributária elevada – explica a fonte do setor ouvida sob a condição de anonimato – faz com que as empresas chinesas enfrentem a concorrência de seus próprios aparelhos, trazidos ilegalmente do Paraguai.
Procurada pelo Valor, a Xiaomi respondeu que “a maior vítima neste processo é sem dúvida o consumidor”. Como exemplo, citou o fechamento de um site não oficial da empresa, o MiStore Brasil, anunciado na semana passada e que “deixou inúmeros consumidores no prejuízo.”
“A Xiaomi teve acesso a muitas reclamações de consumidores que compraram no ‘mercado cinza’, com origem duvidosa, recebendo um produto com o mesmo nome, porém com a frequência de telefonia diferente da adotada no Brasil. Dessa forma, os consumidores têm aparelhos que não funcionam 4G com determinadas operadoras e em certas cidades do país, ficando assim sem suporte e com conexão à internet limitada ao 3G”, informou a empresa.
A Xiaomi, que no ano passado trouxe para o país 15 modelos diferentes de smartphones, frisou ainda que está reforçando a comunicação de seus canais oficiais com o intuito de fornecer informações e suporte aos consumidores da marca.
Em posicionamento enviado por e-mail, a Huawei afirmou que seus produtos disponíveis em parceiros oficiais de venda e quiosques próprios da marca no Brasil têm garantia e serviço de manutenção de alta qualidade, tendo sido aprovados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). “A Huawei também reforça aos consumidores a importância de comprarem produtos originais aprovados pela Anatel”, conclui.