Quinta-feira, 11 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 10 de dezembro de 2025
A cúpula do Centrão resiste à pretensão presidencial do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que esbarra na preferência do grupo pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A avaliação do bloco partidário é que o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro não seria capaz de unir a oposição. Também pesam contra ele as pesquisas de intenção de voto indicando uma alta rejeição carregada pelo sobrenome.
A insatisfação, que já vinha sendo demonstrada nos bastidores, veio a público na segunda-feira com a manifestação do presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI). O ex-ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro disse que as candidaturas com potencial competitivo do bloco são as de Tarcísio e do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD).
“O senador Flávio é um dos melhores amigos que tenho na vida pública. Só que política não se faz só com amizade, se faz com pesquisas, viabilidade, ouvindo os partidos aliados. Não pode ser uma decisão apenas do PL, tem que ser construída. É importante nós unificarmos todo o campo político de centro e da direita, senão nós não vamos ganhar a eleição”, disse Nogueira.
Na segunda-feira, Tarcísio se pronunciou pela primeira vez sobre o assunto. O governador indicou apoio a Flávio, com a ressalva de que ainda há muito tempo até a eleição presidencial:
“Isso aí (pesquisas) a gente vai avaliar ao longo do tempo. Acho que está cedo. O presidente Bolsonaro é uma pessoa que eu respeito muito, sempre disse que eu serei leal a ele. Isso é inegociável. O Flávio vai contar com a gente. Ele tem uma grande responsabilidade a partir de agora, porque se junta a outros grandes nomes da oposição, como (Romeu) Zema, (Ronaldo) Caiado e Ratinho Júnior, todos extremamente qualificados.”
Na tentativa de aparar as arestas e construir um caminho, Flávio reuniu na segunda-feira Nogueira e os presidentes do União Brasil, Antonio Rueda, e do PL, Valdemar Costa Neto, em um jantar em sua casa, em Brasília. Foi o gesto mais agudo de articulação desde o anúncio, na sexta-feira, de que foi o escolhido pelo pai para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026.
Dos três, só Valdemar endossou publicamente a candidatura de Flávio. Sem citá-lo, Rueda afirmou na sexta-feira que em 2026 “não será a polarização que construirá o futuro, mas a capacidade de unir forças em torno de um projeto sério e responsável”.
No encontro, o senador pretendia, segundo interlocutores, convencer a cúpula dos partidos de que pode ser competitivo. Além disso, buscava desfazer a má repercussão em torno da declaração de que teria um “preço” para desistir de concorrer, em referência indireta à tentativa de aprovar uma anistia aos envolvidos nos atos do 8 de Janeiro, o que beneficiaria também seu pai.
A frase, dita dois dias depois do anúncio, foi encarada como um erro por fragilizar uma candidatura que já nasceu sob questionamentos. “Tem uma possibilidade de eu não ir até o fim. Eu vou negociar. Tenho um preço para não ir até o fim”, disse no domingo após participar de um culto em Brasília.
Na segunda-feira, Flávio afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que a candidatura é “irreversível”, não está “à venda” e que o sobrenome é uma vantagem sobre Tarcísio. O senador acrescentou que não vê possibilidade de os dois concorrerem, porque “seria uma ignorância muito grande, e ignorante é tudo o que o Tarcísio não é”. Procurado, Flávio não se manifestou.
Os números mais recentes do Datafolha, no entanto, indicam uma situação melhor do governador de São Paulo. De acordo com o instituto, Lula marcaria 51% contra 36% de Flávio em um eventual segundo turno, diferença de 15 pontos percentuais. Já no cenário contra Tarcísio, Lula teria 47%, cinco pontos a mais que o governador, com 42%. A situação é semelhante em outro quadro pesquisado: Lula assinala 47%, enquanto Ratinho Junior fica com 41%.
Os dados de rejeição também indicam as dificuldades de Flávio. Mesmo sem nunca ter ocupado um cargo no Executivo, posição que traz desgastes naturais, Flávio vê 38% dos eleitores dizerem que não votariam nele. O índice é inferior ao de Lula (44%), mas supera os de Ratinho (21%) e Tarcísio (20%).
Uma eventual dispersão das candidaturas é o que Ciro Nogueira e outros integrantes da cúpula do Centrão pretendem evitar, com a análise de que isso favoreceria Lula.
No sábado, logo após o anúncio de Flávio, o vice-presidente do União Brasil, ACM Neto, reiterou o apoio a Ronaldo Caiado, governador de Goiás. O ex-prefeito de Salvador deve concorrer ao governo da Bahia e participa das articulações da oposição a Lula.
“No que depender da minha vontade, será Caiado. Mas, se vai prevalecer, passa por uma construção nacional, por ouvir vários partidos. É legítimo que cada partido coloque seus nomes”, afirmou ACM Neto. As informações são do jornal O Globo.