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Por Redação O Sul | 26 de fevereiro de 2018
A chanceler alemã Angela Merkel pretende obter nesta segunda-feira (26) a aprovação por seu partido, a CDU (União Democrata-Cristã), para o projeto de governo de coalizão com os social-democratas, depois de desativar um início de rebelião na ala mais à direita da formação conservadora.
Os quase mil delegados da CDU, partido predominante da centro-direita da Alemanha, estavam reunidos desde o início da manhã. O objetivo principal é confirmar o acordo de coalizão negociado com dificuldades entre a CDU – ao lado de seu aliado CSU – o partido social-democrata SDP.
O acordo encerrou quatro meses de incertezas na Alemanha, após as legislativas de setembro, que não tiveram um vencedor claro, mas confirmaram o avanço da extrema-direita e uma crescente fragmentação do panorama politico. Mas o preço político para a chanceler por esta aliança – a única possível pera constituir uma maioria na Câmara – é muito elevado.
Para convencer o reticente SPD, Angela Merkel teve que ceder o ministério das Finanças, considerado pelos conservadores o fiador do rigor orçamentário na Alemanha e na zona do euro. A ala mais à direita da CDU considerou a concessão um excesso e criticou a guinada centrista, no seu entender, adotada pela chanceler.
Para desativar a revolta desta parte da CDU, Merkel anunciou no domingo que o líder da ala mais à direita do partido, Jens Spahn, será o ministro da Saúde. “Sua presença deve refletir o fato de que o partido é plural”, explicou a chanceler.
Aos 37 anos, Spahn, o opositor interno mais visível de Merkel, afirma que a CDU se tornou “muito social-democrata”. Spahn, que já manifestou sua afinidade ideológica e de geração com o jovem chanceler austríaco Sebastian Kurz, que governa com a extrema-direita em seu país, defende uma política conservadora, especialmente em temas identitários e de imigração.
A mudança de direção foi rejeitada por Merkel, que deseja manter seu partido no centro do tabuleiro político. Durante o congresso, Merkel pretende nomear como número dois do partido uma de suas aliadas mais leais, Annegret Kramp-Karrenbauer, de 55 anos. A designação representaria o início da preparação da era pós-Merkel.
Annegret Kramp-Karrenbauer, católica, que governava até agora o pequeno estado regional de Sarre, tem posições mais conservadoras que as de Merkel. Mas isto será suficiente para tranquilizar os rebeldes da CDU?
A promoção de Jens Spahn pode revelar-se um presente envenenado, com a obrigação do silêncio pelo dever de reserva imposto aos ministros. “É o pior castigo imaginável”, ironizou o presidente do partido Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita, 13% dos votos nas legislativas de setembro), Jörg Meuthen. Os outros cinco possíveis futuros ministros da CDU no governo de Merkel – caso os militantes do SPD aprovem a coalizão – são todos leais a Merkel.