Sexta-feira, 13 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 10 de junho de 2025
Chás vêm da natureza e têm uso milenar. Mas será que isso é o suficiente para acreditar que eles podem tratar enfermidades com eficiência? Alguns podem mesmo ajudar a desinflamar o corpo? Eles podem ser usados à vontade? E por que nosso corpo inflama? Nutricionistas e médicos podem responder a essas questões.
Antes, um alerta: você sabe por que se fala tanto atualmente em alimentos anti-inflamatórios? A inflamação é uma resposta do sistema imune a agressões, mas pode se tornar crônica com hábitos como má alimentação, estresse e sedentarismo. A inflamação crônica está ligada a doenças como obesidade, diabetes, problemas intestinais e cardiovasculares.
“De uma maneira geral, embora promissores, os chás devem ser utilizados como coadjuvantes e não substituem terapias médicas. A resposta clínica pode variar conforme o perfil inflamatório do paciente, hábitos alimentares, estilo de vida e pela concentração dos ativos dentro dos chás consumidos”, explica a médica nutróloga Isolda Prado, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Nem toda planta ou parte dela é indicada e segura para o preparo dos chás, destaca a nutricionista e doutora em alimentos e nutrição pela Unicamp Patrícia Berilli. Por isso, a Anvisa disponibiliza uma lista das espécies vegetais e suas respectivas partes autorizadas para o preparo de chás no Brasil – a Instrução normativa n° 159, de 1° de Julho de 2022.
A composição química dos chás varia em função da matéria-prima utilizada, do processamento do material e das condições de preparo. Em geral, o potencial anti-inflamatório dos chás é atribuído principalmente ao seu rico conteúdo de polifenóis e seus derivados.
Diversos chás apresentam compostos bioativos com propriedades anti-inflamatórias naturais, mas estudos clínicos (em humanos) que comprovem a eficácia dos chás com esse propósito são ainda escassos. Entre os mais estudados, estão:
– 1. Chá de camomila ou maçanilha (matricaria recutita l. e chamomilla recutita): Parte do vegetal autorizada para o consumo – capítulos florais (flores); Os benefícios do consumo deste chá envolvem a leve redução de atividade inflamatória, melhorando o sono. Possui apigenina e flavonoides, com ação calmante.
– 2. Chá verde e chá preto (Camellia sinensis): Parte do vegetal autorizada para o consumo – folhas e talos; Essa planta é fonte de catequinas, com efeito antioxidante e anti-inflamatório. As ações associadas são a redução de inflamação sistêmica, melhora da função endotelial, e auxílio na prevenção de doenças crônicas.
– 3. Chá de erva-doce ou funcho (foeniculum vulgare): Parte do vegetal autorizada para o consumo – frutos; Tem o potencial de melhorar sintomas intestinais, como gases e cólicas, além de leve ação anti-inflamatória local. Essas ações são particulares pela presença de anetol como ativo, que tem efeito anti-inflamatório e antiespasmódico.
– 4. Chá de hortelã (mentha piperita): Parte do vegetal autorizada para o consumo – folhas e ramos; Tem ação anti-inflamatória digestiva, ajuda em cólicas e distensão abdominal.
ALERTA: Muitas espécies vegetais são autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas para uso como especiarias, como rizomas (caules) de gengibre e de cúrcuma, que não estão autorizados pela agência para o preparo de chás, por exemplo.
Segundo Prado, estudos indicam que os compostos bioativos presentes nesses chás modulam a resposta inflamatória por: mecanismos de inibição da expressão de NF-κB, um fator de transcrição pró-inflamatório; redução da produção de citocinas inflamatórias como TNF-α, IL-1β e IL-6; ativação de enzimas antioxidantes endógenas como a superóxido dismutase (SOD); além de efeitos sobre o microbioma intestinal, melhorando a barreira intestinal e reduzindo a endotoxemia – condição em que toxinas liberadas por bactérias entram na corrente sanguínea e causam uma resposta inflamatória no corpo.
Estudos recentes têm mostrado que alguns chás como verde, oolong e preto têm a capacidade de modular a microbiota do intestino, o que supostamente poderia beneficiar a barreira intestinal e a inflamação sistêmica.
A ingestão de três porções de chá preto durante 12 semanas foi capaz de reduzir significativamente os níveis de proteína C-reativa (53,4% em homens e 41,1% em mulheres), uma proteína que sinaliza inflamação no corpo, em pacientes suscetíveis a doenças cardíacas isquêmicas – apontou um estudo de 2010 publicado na revista Science.
“Essas características sugerem que os chás podem auxiliar na prevenção e controle de doenças de base inflamatória como a osteoartrite, obesidade, o diabetes mellitus tipo 2, doenças inflamatórias intestinais, cardiovasculares, entre outras”, diz Berilli.
No Brasil, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o chá é o “produto constituído de uma ou mais partes de espécie vegetal inteira, fragmentada ou moída, com ou sem fermentação, tostada ou não (…). O produto pode ser adicionado de aroma e/ou especiaria para conferir aroma e/ou sabor”.
Berilli acrescenta ainda que nem todo chá é medicinal. “No Brasil, os chás são regulamentados como alimentícios ou fitoterápicos, sendo que apenas os fitoterápicos podem ter alegações de propriedade medicinal. Se usados da forma correta e como parte de uma alimentação adequada, eles podem auxiliar em várias condições de saúde e favorecer a qualidade de vida da população”, explica.