Sexta-feira, 24 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 10 de novembro de 2021
Em uma reviravolta geopolítica, China e Estados Unidos, os dois maiores emissores de carbono do mundo, divulgaram de surpresa nesta quarta-feira (10) na conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a COP26, um acordo no qual prometem trabalhar juntos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa nesta década.
A declaração acontece a poucos dias do final da COP26, após vários momentos de tensão e trocas de farpas entre as superpotências. O acordo promete cooperação em algumas áreas específicas, como o corte de metano, os transportes, a energia e a indústria.
Seu principal significado, no entanto, é político. Pequim e Washington vivem em um contexto de extrema rivalidade, que vai da esfera militar à comercial. Embora o governo de Joe Biden sempre tenha afirmado estar disposto a cooperar com Pequim no clima, muitos se perguntavam se isso seria possível.
Ao anunciarem a cooperação na área climática, os países dão um sinal de disposição para enfrentar a crise ambiental. A declaração afirma que “os Estados Unidos e a China dão as boas-vindas aos esforços significativos feitos em todo o mundo para enfrentar a crise climática. No entanto, reconhecem que ainda existe uma lacuna significativa entre esses esforços e aqueles que precisam ser realizados para alcançar os objetivos do Acordo de Paris”.
“Os dois lados”, acrescenta o texto, “enfatizam a importância vital de preencher essa lacuna o mais rapidamente possível, especialmente por meio de esforços intensos. Eles declaram sua intenção de trabalhar individualmente, em conjunto e com outros países durante esta década decisiva, de acordo com as diferentes circunstâncias nacionais, para fortalecer e acelerar a ação climática e a cooperação, com o objetivo de fechar a lacuna”.
O chefe da delegação chinesa, Xie Zhenhua, afirmou que as partes trabalharam na declaração por 10 meses, tendo realizado 30 reuniões virtuais e duas presenciais. “Ambos veem que o desafio da mudança climática é existencial” e percebem “a necessidade de cooperar”, afirmou.
“China e Estados Unidos, as duas superpotências mundiais, têm que assumir a responsabilidade de trabalhar junto com outras partes no combate às mudanças climáticas”, disse Xie. “A mudança climática está se tornando um desafio cada vez mais urgente.”
O enviado especial para o clima da Casa Branca, John Kerry, disse que não faltam diferenças entre os Estados Unidos e a China, mas, em relação à mudança climática, “a cooperação é a única maneira de conseguir trabalhar”. Kerry disse que as equipes “trabalharam por meses” e que o acordo oferece “uma estrutura básica para nosso trabalho futuro”.
“Como os dois maiores emissores, a China e os Estados Unidos precisam mostrar qual caminho seguir”, disse Kerry. “Somos honestos sobre nossas diferenças. Esta é uma crise climática. O que estamos fazendo é a única coisa responsável a fazer.”
Juntos, os dois países são responsáveis por mais de 40% das emissões globais. O anúncio do acordo acontece dias antes de uma reunião virtual entre Joe Biden e Xi Jinping, que pode acontecer já na próxima segunda-feira, segundo o site Politico.
O documento contém trechos escritos cuidadosamente, de modo a não comprometer as partes. Por exemplo, não cita quando a China deve alcançar o ápice das suas emissões de gases-estufa. A este respeito, Kerry disse que o país asiático “já pode ter alcançado o pico”.
O texto também foi redigido de modo a não comprometer os dois países com a interrupção do uso do carvão como fonte de energia, depois que nenhum deles assinou na COP26 a declaração sobre o fim do uso desse combustível. Sobre o tema, a declaração menciona apenas o compromisso, já anunciado por ambos, de não financiar no exterior projetos movidos a carvão.
Por outro lado, o acordo tem algumas medidas concretas. Por exemplo, diz que as metas climáticas dos dois países para 2035 serão apresentadas em 2025, em vez de 2030, como previsto antes. Além disso, o texto cita esforços conjuntos para finalizar as regras de Paris sobre o mercado de carbono, entre outros itens.
Há também uma promessa da China de reduzir a sua emissão de metano. O país foi criticado por não assinar o compromisso anunciado na semana passada na COP26 sobre o tema. Pequim não chega a corroborar o pacto global, mas compromete-se a “desenvolver um Plano de Ação Nacional abrangente e ambicioso sobre o metano” nesta década. As informações são do jornal O Globo.