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Por Redação O Sul | 8 de junho de 2018
Pesquisadores americanos e dinamarqueses afirmaram que desenvolveram um exame de sangue barato que pode prever com até 80% de precisão se uma mulher grávida dará à luz prematuramente. Embora mais pesquisas sejam necessárias antes que o teste esteja pronto para uso generalizado, especialistas dizem que ele tem o potencial de reduzir fatalidades e complicações nos 15 milhões de nascimentos prematuros por ano em todo o mundo.
O teste também pode ser usado para estimar a data do parto de forma “tão confiável quanto e menos dispendiosa do que a ultrassonografia”, disse o estudo publicado na revista “Science”.
O teste mede a atividade dos genes materno, placentário e fetal, avaliando os níveis de RNA livre de células, que são moléculas mensageiras que transportam as instruções genéticas do corpo.
“Descobrimos que um punhado de genes são altamente capazes de prever quais mulheres correm risco de parto prematuro”, disse o coautor sênior Mads Melbye, professor visitante da Universidade de Stanford e CEO do Statens Serum Institut em Copenhague.
“Eu passei muito tempo ao longo dos anos trabalhando para entender o parto prematuro. Este é o primeiro progresso científico real e significativo sobre este problema em muito tempo”, acrescentou. Outro pesquisador de destaque foi Stephen Quake, professor de bioengenharia e de física aplicada na Universidade de Stanford, que liderou uma equipe que criou um exame de sangue para a síndrome de Down em 2008 – hoje usado em mais de três milhões de mulheres grávidas por ano.
O nascimento prematuro, que ocorre quando o bebê chega pelo menos três semanas antes da data prevista, afeta 9% dos nascimentos nos Estados Unidos e é a principal causa de morte antes dos 5 anos entre as crianças em todo o mundo. Já existem alguns testes para prever o nascimento prematuro, mas eles tendem a funcionar apenas em mulheres que apresentam um alto risco, e são precisos apenas cerca de 20% das vezes, de acordo com o estudo.
Para desenvolver o teste, os pesquisadores examinaram amostras de sangue de 31 mulheres dinamarquesas para identificar quais genes davam sinais confiáveis sobre idade gestacional e risco de prematuridade. Segundo os pesquisadores, depois de que mais pesquisas forem feitas e de que o teste eventualmente chegar ao mercado, provavelmente será simples e barato o suficiente para ser usado em áreas pobres.
Motivação pessoal
Stephen Quake, também autor do estudo, conta que começou a se interessar pelo assunto quando virou pai. “Minha filha nasceu quase um mês prematura. Ela agora é uma jovem de 16 anos muito saudável e ativa, mas certamente ficou na minha cabeça que esse é um problema importante para se trabalhar.”
A chegada de bebês antes do esperado é comum, mas nem sempre com o fim desejado. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que, por ano, nasçam 15 milhões de bebês nessa condição e morra 1 milhão de crianças em decorrência de complicações desse tipo de parto.
Dados como esses, segundo Quake, estimulam a busca de soluções médicas mais eficazes. “A ultrassonografia fornece informações menos confiáveis à medida que a gravidez avança, tornando-a menos útil para mulheres que não recebem atendimento pré-natal. O ultrassom requer equipamentos caros e técnicos treinados, que não estão disponíveis em grande parte do mundo em desenvolvimento. Acreditamos que o novo exame de sangue será simples e barato o suficiente para ser usado em ambientes com poucos recursos”, destaca.
A equipe ressalta que precisa validar o teste com grupos maiores de grávidas. Além de investigar a fundo os papéis dos genes que sinalizam a prematuridade, eles planejam identificar alvos para drogas que possam atrasar o nascimento prematuro. “Conhecer quais genes sinalizam a prematuridade e o parto vai nos permitir entender melhor algo por qual todos nós passamos, o nascimento, e que ainda é um processo muito desconhecido”, opina o geneticista Gustavo Guida, do Laboratório Exame, de Brasília.