Sábado, 14 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 23 de março de 2016
Aideia de que nosso cérebro tem um espaço limitado para armazenar informações e que para aprender algo novo é preciso esquecer alguma outra coisa pode realmente ter um fundo de verdade. Em um novo estudo, pesquisadores do Laboratório Europeu de Biologia Molecular e da Universidade Pablo Olavide, em Sevilha, na Espanha, identificaram um caminho pelo qual o cérebro humano busca apagar memórias que aparentemente só são ativadas em situações de aprendizagem.
“Esta é a primeira vez que uma via no cérebro foi ligada ao esquecimento, a ativamente apagar memórias”, diz Cornelius Gross, líder da pesquisa no Laboratório Europeu de Biologia Molecular e autor de artigo sobre a descoberta. Levando em conta que o aprendizado envolve basicamente fazer associações e lembrar delas depois, Gross e seus colegas analisaram o hipocampo de camundongos. Sabe-se há tempos que essa região do cérebro está envolvida na formação de memórias, com as informações chegando até ela por três diferentes “rotas”. E, à medida que as memórias são consolidadas, as conexões entre neurônios ao longo da “principal” dessas rotas são reforçadas.
Assim, quando os cientistas bloquearam a rota principal para o hipocampo no cérebro dos camundongos, eles observaram que os animais não eram mais capazes de aprender uma resposta pavloviana básica, como associar um som a uma consequência e antecipar essa consequência quando ouviam o som.
Mas, se os roedores já tivessem aprendido a fazer a associação antes do bloqueio dessa via pelos pesquisadores, eles ainda eram capazes de recuperar essa memória e reagir como esperado. Segundo os cientistas, o resultado do experimento confirmou que esse caminho é essencial para a formação das memórias, mas não para lembrá-las, o que atribuem a alguma das outras vias. O bloqueio da rota principal, no entanto, teve consequências inesperadas, com as conexões entre os neurônios nela enfraquecendo, o que foi interpretado como as memórias sendo apagadas.
Aprendizagem.
“Simplesmente bloquear esta via não deveria ter um efeito tão forte”, destaca Agnès Gruart, pesquisadora da Universidade Pablo Olavide e coautora do estudo. “Ao investigarmos mais a fundo este efeito, descobrimos que a atividade em outra das rotas estava impulsionando este enfraquecimento.”
Ainda de acordo com os pesquisadores, esse impulso ativo para o esquecimento só foi observado em situações de aprendizagem, tanto que quando bloquearam a rota principal de informações para o hipocampo em outras situações a força das conexões entre neurônios nela não se alterou.
“Uma explicação para isso é que há um espaço limitado no cérebro”, considera Gross. “Então, quando você está aprendendo, você tem que enfraquecer suas conexões para dar espaço a outras, isto é, para aprender novas coisas, você deve esquecer coisas que aprendeu antes.”
Embora a descoberta tenha sido feita com camundongos geneticamente alterados, com a ajuda de Maja Köhn, chefe de laboratório no Laboratório Europeu de Biologia Molecular, os cientistas demonstraram ser possível produzir uma droga que ativa a “via do esquecimento” sem a necessidade de mudanças no genoma.
Segundo eles, essa abordagem pode ser importante para desenvolver formas de ajudar pessoas assombradas com memórias ruins, como vítimas de estresse pós-traumático, a esquecerem essas experiências dolorosas. (AG)