Sexta-feira, 07 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 10 de julho de 2017
Uma biblioteca singular está começando a tomar forma na base franco-italiana na Antártida. Mas nela não haverá livros, e sim amostras de gelo de todas as geleiras ameaçadas do mundo. A amostra mais recente foi coletada por uma equipe internacional de pesquisadores na geleira Illimani, que fica a cerca de 80 quilômetros de La Paz, capital da Bolívia.
O objetivo do projeto, batizado de “Memórias do gelo”, é estudar e preservar o material antes que as geleiras desapareçam por causa das mudanças climáticas. A Antártida é o lugar óbvio para acolher as amostras porque, mesmo caso seja mantido o aumento das temperaturas globais, irá se manter fria por muito tempo. “Nós queremos guardar esse tipo de amostras de geleiras porque elas são uma enciclopédia sobre o clima e o meio ambiente”, disse Patrick Ginot, um dos glaciólogos que trabalha na iniciativa, à agência de notícias Reuters.
Para extrair o gelo do glaciar boliviano, a mais de 6,2 mil metros de altura, os pesquisadores utilizaram uma broca especial que lhes permitiu extrair dois cilindros, um de 137 metros e outro de 134. Além de servir para decifrar a história do clima, esses pedaços de gelo permitirão acompanhar as mudanças nas emissões de poluentes em La Paz nos últimos séculos, dizem os pesquisadores. Segundo prevê a equipe, as geleiras que estão a menos de 5,5 mil metros “vão desaparecer completamente nos próximos 20 anos”. Isso, afirmam, terá consequências diretas na seca que hoje afeta o país.
A extração de gelo na Bolívia foi a segunda feita pela equipe, cuja administração está a cargo da universidade francesa Grenoble Alpes. A primeira aconteceu em agosto do ano passado, quando os pesquisadores coletaram amostras do maciço de Mont Blanc, nos Alpes franceses. As próximas expedições serão à Rússia e ao Nepal.