Segunda-feira, 02 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 29 de maio de 2025
Eram quase 23h quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deixou a residencial oficial do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), com o time de articulação política de Luiz Inácio Lula da Silva.
Os abraços e sorrisos distribuídos na porta do encontro na noite de quarta-feira (28) não refletiam, porém, o clima geral da conversa, que se arrastara por duas horas. “Madura” e “sóbria” foram termos usados por interlocutores dos dois lados após o encontro. Uma forma de dizer que, se não houve discussão acalorada, tampouco houve muito espaço para gracejos ou descontração.
Um ambiente que contrastava com a forma próxima como Haddad e Motta vinham se relacionando. Até a crise do IOF se instalar, os dois haviam construído uma relação de amizade, com conversas frequentes e elogios públicos mútuos.
Na reunião, coube a Motta dizer que a tentativa da cúpula do Congresso era “ajudar”, porque, o caminho posto era o de derrubar a medida. Tanto Davi Alcolumbre (União-AP) quanto o presidente da Câmara deixaram claro a péssima repercussão do aumento do IOF entre parlamentares.
O relato do clima hostil no Congresso não fez, no entanto, Haddad recuar. O ministro chegara à reunião decidido a fazer a defesa da decisão de aumentar o IOF e não jogar a toalha na discussão.
Ao comando do Congresso, reconheceu que a situação das contas públicas neste ano era complicada. Segundo relatos, Haddad foi enfático: próximo à metade do ano, estava claro que chegar às metas colocadas não seria tarefa fácil. O IOF era, assim, uma maneira de resolver parte da questão de forma mais emergencial sem colocar em risco o funcionamento da máquina pública.
Outros caminhos envolveriam uma tramitação mais complexa e arriscariam o segundo semestre, incluindo o desembolso de emendas parlamentares.
Haddad expôs ainda que haveria benefícios adicionais na medida do IOF, como ajudar no controle da inflação, outro problema para 2025.
Foi justamente o impacto da medida na concessão de crédito que levou banqueiros em romaria a Brasília na quarta-feira com pedidos de ajuste na taxação do IOF.
O ministro da Fazenda fez um apelo para o “bom senso” do Congresso diante do quadro. Segundo ele, o caminho de reduzir as isenções fiscais também vinha sendo barrado pelos parlamentares, o que deixava a equipe econômica sem muito espaço de manobra.
Motta e Alcolumbre, no entanto, reforçaram que, entre os parlamentares, o azedume era geral e a medida dava impressão de que o governo buscava um remendo para um problema maior que se colocava.
A saída foi então dar ao time de Lula um pouco mais de tempo, mais especialmente dez dias.
Haddad se comprometeu a detalhar o quadro fiscal para este ano enquanto analisa sugestões feitas pelos bancos e propostas que possam indicar controle dos gastos de forma estrutural.
Para aliados do ministro, a conversa foi importante para “abrir negociações”, mas não há saída evidente para o impasse.
Do lado de Motta, há avaliação de que a relação ficou estremecida. Além da pressão de deputados e agentes do setor privado, as declarações de Haddad ao jornal O Globo de que o ajuste estava mais na mão do Congresso do que de Lula, o obrigou a ficar na defensiva. (Com informações da coluna de Renata Agostini no jornal O Globo)