Sábado, 15 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de novembro de 2025
Imersos em dificuldades financeiras, os Correios correm contra o tempo para levantar ao menos R$ 10 bilhões em 15 dias. Os recursos são necessários para equilibrar as contas e recuperar a capacidade operacional para conseguir se salvar de um cenário que pode se tornar ainda mais catastrófico. A expectativa da direção da empresa estatal é obter o valor via empréstimo, com garantia da União, até o fim do mês.
O montante corresponde à metade dos R$ 20 bilhões que a estatal almejava inicialmente, mas ela foi forçada a rever a estratégia diante do alto custo cobrado pelos bancos na primeira rodada de negociações da empresa comandada por Emmanoel Rondon.
A chegada do empréstimo também é fundamental para colocar de pé as iniciativas de saneamento das despesas dos Correios. O principal foco é a redução de gastos com pessoal. A ideia é propor um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para alcançar 10 mil funcionários. Isso, porém, tem um custo.
No último PDV, de um público potencial de 8 mil funcionários que manifestou interesse em se desligar da empresa, apenas 3,6 mil fizeram a adesão.
A avaliação na atual direção da empresa é que, desta vez, será necessário oferecer condições para chegar à meta de 10 mil desligamentos. A ideia é convencer esses trabalhadores de que será vantajoso deixar a empresa com o PDV. A meta é reduzir a folha salarial em R$ 2 bilhões por ano.
O objetivo agora é conseguir o máximo de recursos emprestados, mas com custo financeiro de até 120% do CDI (que segue a taxa Selic), limite normalmente considerado em operações com garantia da União. A estatal enviou a proposta para um grupo de cerca de dez bancos e espera a resposta até o fim do mês.
Com a redução do valor do empréstimo, a empresa espera aumentar a oferta de crédito, incluindo, inclusive, bancos de menor porte nas conversas.
Na primeira rodada, a taxa cobrada pelos bancos BTG Pactual, Citibank, ABC Brasil e o Banco do Brasil foi considerada muito elevada para uma operação que será avalizada pelo Tesouro Nacional — ou seja, se a empresa não pagar, a União arca com o custo. O risco para as instituições financeiras, na prática, é zero. Procurados, os bancos não comentaram o assunto.
O custo da oferta chegou a 136% do CDI, o que acarretaria um custo de cerca de R$ 3 bilhões por ano somente de juros, segundo um interlocutor envolvido nas negociações. O Comitê de Garantias do órgão estabelece um custo máximo aceitável para que uma operação seja elegível à garantia da União, que atualmente é de 120% do CDI.
O percentual não é uma restrição em si, mas uma prática usada pelo órgão para evitar excessos nas operações de crédito com estatais e entes subnacionais. Empréstimos para estados em regime de recuperação fiscal, por exemplo, não observam esse limite, porque são naturalmente mais arriscados.
No caso dos Correios, porém, a ideia é perseguir esse parâmetro. Por isso, a estatal abriu uma nova rodada de negociações e ampliou o rol de bancos consultados. Na proposta, a empresa disse que quer captar até R$ 20 bilhões, com uma taxa máxima de 120% do CDI.
Nesse contexto, é considerado razoável obter ao menos R$ 10 bilhões no curto prazo diante do interesse manifestado pelas instituições financeiras e fazer outra rodada para conseguir o restante mais para frente.
É possível que a operação seja feita com um sindicato de bancos, o mesmo modelo de um empréstimo que a estatal contraiu anteriormente com Citibank, BTG e ABC Brasil.
Para evitar questionamentos futuros, a direção dos Correios já se reuniu com o Tribunal de Contas da União (TCU) e apresentou as linhas gerais de seu plano de reestruturação para que a corte possa acompanhar o processo desde o início.
O dinheiro do empréstimo é considerado necessário para equacionar o caixa da empresa, pagar as dívidas e compromissos em atraso, além de colocar de pé o plano de reestruturação da empresa.
A empresa registrou um prejuízo acumulado de R$ 4,3 bilhões em 2025. Apenas no segundo trimestre, entre abril e junho, o resultado negativo atingiu R$ 2,6 bilhões, quase cinco vezes o registrado em igual período do ano anterior, de R$ 553,1 milhões. Além disso, o prejuízo mensal do caixa tem ficado em torno de R$ 750 milhões. As informações são do jornal O Globo.