Quinta-feira, 02 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de setembro de 2025
Documento da Sociedade Brasileira de Cardiologia passa a exigir níveis abaixo de 40 mg/dL em pacientes que já tiveram infarto ou AVC
Foto: ReproduçãoA SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) lançou nesta quarta-feira (24) a atualização da Diretriz de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. O documento, que substitui a versão de 2017, endurece metas de colesterol e incorpora novos marcadores, como o colesterol não-HDL, a apolipoproteína B e a lipoproteína(a).
A principal mudança está no LDL, conhecido como “colesterol ruim”. Pela primeira vez, a diretriz brasileira inclui a categoria de risco extremo, voltada para pacientes que já tiveram múltiplos eventos cardiovasculares: para eles, a meta é de menos de 40 mg/dL.
Veja as novas metas:
Baixo risco: menor que 115 mg/dL (antes era menor que 130 mg/dL)
Intermediário: menor que 100 mg/dL (antes era menor que 100 mg/dL)
Alto: menor que 70 mg/dL (sem alteração)
Muito alto: <50 mg/dL (antes era menor que 70 mg/dL)
Extremo: <40 mg/dL (nao existia na diretriz anterior)
Cardiologista e coordenador da Unidade Coronária do IDPC (Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia), Italo Menezes Ferreira lembra que não existe um valor ideal único de colesterol para todos. “Primeiro é preciso estratificar o risco cardiovascular do paciente. Só a partir daí se define a meta de LDL adequada”, diz.
O que é colesterol? O colesterol é um tipo de lipídio (“gordura”) que compõe a membrana das células do nosso corpo e que também é precursor da formação de hormônios e vitaminas. Ele é essencial para diversas funções, mas seu excesso está associado a diversos problemas de saúde, especialmente doenças cardiovasculares, como AVC (acidente vascular cerebral) e infarto.
Como definir o risco do paciente
Para definir as metas para cada paciente, a diretriz passa a recomendar o uso de cálculos mais completos de risco cardiovascular em 10 anos, como o escore Prevent, da American Heart Association. Esse modelo considera, além de idade, sexo e histórico clínico, fatores como função dos rins e IMC (índice de massa corporal), oferecendo uma estimativa mais precisa da chance de infarto ou AVC.
Na prática, um escore funciona como uma nota que resume o risco. O médico insere dados como idade, sexo, pressão arterial e função renal, e o sistema calcula a probabilidade de infarto ou AVC em 10 anos.
Meta: evitar infartos
Cirurgião cardiovascular do Hospital Beneficência Portuguesa, Ricardo Kazunori Katayose detalha que a mudança parte do entendimento de que reduzir ainda mais o LDL pode evitar novos infartos em pacientes já comprometidos.
“Ao criar a categoria de risco extremo, a diretriz reconhece que pacientes que já tiveram múltiplos eventos precisam de metas mais agressivas”, explica.
Diagnóstico ampliado
O documento recomenda que todos os adultos façam pelo menos uma vez na vida a dosagem da lipoproteína(a), ou Lp(a), marcador associado a risco elevado de infarto e Acidente Vascular Cerebral. Valores acima de 125 nmol/L ou 50 mg/dL indicam elevação significativa.
O exame, no entanto, ainda não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) nem tem cobertura ampla nos planos de saúde.
Katayose relembra que parte das dislipidemias é de origem genética. O termo se refere a alterações nos níveis de gorduras no sangue — como colesterol e triglicerídeos — que aumentam o risco de entupimento das artérias.
“Muitas vezes o histórico familiar de infarto se explica por dificuldade de metabolizar o colesterol. Nesses casos, a detecção precoce é crucial para adotar mudanças de estilo de vida ou iniciar medicação”, afirma.