Quinta-feira, 13 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de fevereiro de 2016
O espaço pode ser um lugar extremamente violento. Asteroides e cometas se chocam com planetas, estrelas explodem ou acabam até mesmo “rasgadas” por buracos negros. Mas nada se compara, em “brutalidade”, às colisões entre as galáxias.
O Cosmo tem aglomerados que podem conter centenas delas, cada uma com bilhões ou mesmo trilhões de estrelas, todas emaranhadas pela gravidade. Quando um desses grupos gigantescos de galáxias chega muito perto de outro, essa força os “gruda”. E as colisões são gigantescas, gerando mais energia que qualquer outro evento desde o Big Bang.
Uma das mais famosas colisões é o Bullet Cluster (em tradução livre, algo como “aglomerado bala”, no sentido de projétil de arma mesmo), formado por mais de mil galáxias de dois grupos. O impacto entre eles criou uma onda de choque em forma de bala, daí o nome.
O visual é impressionante, mas os astrônomos não estão apenas admirando o espetáculo. O que chamou a atenção foi o fato de que as colisões revelaram um produto invisível: a chamada matéria negra.
Ela é, segundo os cientistas, a cola que mantém os emaranhados juntos, formando a fundação gravitacional de estrelas, gases e galáxias pelo Universo. Responde por 25% do Cosmo, mas é invisível e ninguém sabe exatamente do que é feita.
Mas graças ao Bullet Cluster, cientistas agora podem assistir “de camarote” ao mistério. A colisão expôs a matéria negra, separando-a de estrelas e gases, produzindo ainda uma prova direta da existência dessa “cola”.
“É meu objeto favorito no Universo”, diz Marusa Bradac, astrofísica da Universidade da Califórnia (EUA).
Laboratório cósmico.
Os aglomerados não apenas revelam a matéria negra para os cientistas. São uma ferramenta versátil, que os ajuda a estudar algumas das primeiras galáxias que existiram. São também um laboratório cósmico, no qual os pesquisadores podem analisar o comportamento de um quente e energizado gás chamado plasma.
O Bullet Cluster está a 3,7 bilhões de anos-luz da Terra. Consiste em dois aglomerados diferentes que se chocam em velocidades da ordem de 10 milhões de quilômetros por hora. Rápido para padrões humanos, mas nada demais em termos cósmicos, já que há estrelas no Universo que se movem ainda mais rápido.
Mas tamanho é documento na hora das colisões. Um dos aglomerados tem massa 1 quatrilhão de vezes maior que o Sol. O outro, “apenas” 100 trilhões. Quando dois pesos-pesados dessa magnitude colidem, a temperatura dos gases que os compõem aumenta para a casa dos 200 milhões de graus.
Cientistas estimam que a energia liberada pelas colisões chega a 8 decilhões de joules. É o equivalente à energia produzida por 6 trilhões de sóis queimando desde o início do Universo – 13,8 bilhões de anos.
A colisão é vasta em termos de tempo e espaço. Um raio de luz levaria 6 milhões de anos para cruzar os emaranhados de cabo a rabo.
O choque que vemos hoje ocorreu há pelo menos 150 milhões de anos, algo recente em termos cósmicos. Isso dá aos astrônomos uma chance sem precedentes de espiar algo em progresso – as batidas continuarão acontecendo por pelo menos mais alguns bilhões de anos.
Mas é a posição do Bullet Cluster que o torna ainda mais único. Por coincidência, a colisão está alinhada perpendicularmente à nossa linha de visão. “Somos espectadores vendo tudo acontecer de lado”, diz Andrey Kravstov, astrofísico da Universidade de Chicago (EUA).