Sábado, 23 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 6 de outubro de 2021
Criada na década de 1990 por um médico cearense, a operadora de saúde Hapvida, acusada de pressionar médicos para que receitassem cloroquina a pacientes com sintomas similares aos da covid-19, consolidou durante a pandemia uma trajetória de expansão que já havia se pronunciado ao menos desde 2018, quando abriu seu capital na Bolsa de Valores. A Hapvida terminou 2020 com receita líquida de R$ 8,5 bilhões, um aumento de 51% para o faturamento do ano anterior, segundo o balanço divulgado pela empresa. Em junho deste ano, segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), a Hapvida chegou a 2,8 milhões de clientes de assistência médica – o balanço da empresa, que considera também os números de outras operadoras adquiridas pela Hapvida, contabiliza 3,8 milhões de clientes.
No ano em que entrou na Bolsa e em 2019, antes da pandemia, a receita líquida da Hapvida havia girado em torno de R$ 5 bilhões. A covid-19 também levou a um incremento de custos assistenciais mas, ainda assim, a empresa registrou lucro líquido final de R$ 1,3 bilhão no ano passado. Em 2021, a lista elaborada pela revista “Forbes” com as famílias mais ricas do País passou a incluir a família Pinheiro Koren de Lima, dona da Hapvida, na quarta colocação, com um patrimônio conjunto estimado de R$ 7,5 bilhões.
O patriarca Cândido Pinheiro Koren de Lima, fundador da Hapvida e médico oncologista que abriu seu primeiro hospital em Fortaleza em 1979, entrou na lista de bilionários da Forbes em 2019. Hoje, ele preside o conselho de administração da empresa. Dois de seus filhos, Jorge Pinheiro, atual presidente da Hapvida, e Cândido Junior, que segue como membro do conselho, também figuram na lista. A Hapvida surgiu como operadora de saúde em 1993, levando em seu nome as iniciais do Hospital Antônio Prudente, o primeiro fundado por Cândido, e que hoje é um dos maiores da capital cearense. Na unidade, uma das dedicadas pela Hapvida para pacientes de covid-19, um de seus médicos, Felipe Peixoto Nobre, denunciou pressões da empresa para receitar cloroquina, medicamento ineficaz para coronavírus, e recusa a fazer testes de detecção do vírus.
A denúncia de Nobre consta em investigação do Ministério Público do Ceará (MP-CE) que já multou a empresa em R$ 468,3 mil neste ano. O material da investigação foi remetido à CPI da Covid, que investiga outras operadoras de saúde, como a Prevent Senior, por utilização de cloroquina em larga escala e também por omitir a covid-19 em atestados de óbito de pacientes. Na semana passada, reportagem do “El País” revelou que um paciente da Hapvida no Hospital Teresa de Lisieux, em Salvador (BA), teve o coronavírus omitido em seu atestado de óbito. Em nota, a Hapvida admitiu que houve erro no atestado de óbito em questão, mas alegou que as autoridades sanitárias foram informadas da covid-19 e que, portanto, a morte do paciente constaria nas estatísticas oficiais da pandemia.
Com presença mais forte nas regiões Norte e Nordeste, a Hapvida tem hoje 45 hospitais em 15 Estados, e conta em sua rede com 30 mil médicos e 37 mil colaboradores, segundo o balanço mais recente. A política da operadora é pautada pela “verticalização”, isto é, por concentrar atendimentos a seus beneficiários de planos de saúde em rede hospitalar própria. Além disso, a Hapvida apostou na última década em oferecer planos mais baratos, reduzindo o chamado “ticket médio”, uma estimativa de custo por serviço. No fim de 2020, por exemplo, o ticket médio da Hapvida era de R$ 202,33 segundo o balanço da empresa. Na mesma época, a média do mercado ficava acima de R$ 400 – no caso de seguradoras, ultrapassava R$ 600.
Desde 2018, a Hapvida vem costurando aquisições de outras empresas de saúde, como forma também de expandir presença em outras regiões. Neste ano, a Hapvida avançou na fusão com o grupo Notre Dame Intermédica, com presença no Sul e no Sudeste, em um negócio cujo valor de mercado total foi avaliado em R$ 100 bilhões.
Sobre pressões para prescrição de cloroquina em pacientes na pandemia, a Hapvida divulgou um comunicado em que admitiu uma “adesão relevante” ao medicamento em sua rede hospitalar, mas disse respeitar a “autonomia médica” para receitar o medicamento, e que o uso do medicamento foi reduzido com o tempo. “Nas ocasiões em que o médico acreditava que a hidroxicloroquina poderia ter eficácia, sua definição ocorria sempre durante consulta, de comum acordo entre médico e paciente, que assinava termo de consentimento específico em cada caso. Ainda assim, há meses não se observa mais a prescrição dessa medicação nas nossas unidades”, diz o comunicado. As informações são do jornal O Globo.