A tranquilidade uruguaia contrasta com o descontrole da pandemia no Brasil e na Argentina. Como lembrou o embaixador Felicio, “as mortes totais no Uruguai não chegam a 50 e em São Paulo podem morrer 200 pessoas num só dia”.

“Pense que estamos a 700 quilômetros de Porto Alegre, muitos gaúchos têm casa nesta região”, comentou o embaixador.

O governo de Lacalle Pou aprovou recentemente medidas facilitando ainda mais a concessão de residência permanente e fiscal, deixando claro que seu interesse em receber imigrantes do mundo inteiro. O Uruguai tem um problema crônico de envelhecimento da população, e aumentar a chegada de estrangeiros é um dos principais objetivos do novo governo.

Alguns elementos ajudam o governo de centro-direita, que hoje conta com mais de 60% de respaldo popular. O presidente herdou uma economia em processo de desaceleração, mas não mergulhada numa recessão, como foi o caso na Argentina. Os três governos sucessivos da esquerdista Frente Ampla melhoraram de forma expressiva os indicadores sociais, e hoje o Uruguai tem menos de 10% de sua população abaixo da linha da pobreza. O PIB uruguaio fechou o ano de 2019 com 0,2% de variação positiva, acumulando 17 anos de crescimento consecutivos. Para este ano, estima-se uma queda um pouco acima de 3%, longe dos mais de 10% projetados na Argentina e 17% no Peru.

O sistema de saúde é sólido e em momento algum chegou ao limite. O Uruguai, explicou o consultor político Federico Irazabal, “é um país pequeno, simples de controlar, mas também com uma estabilidade política admirável”.

“Apesar de algumas tentativas isoladas de ataque ao governo, a grande maioria da oposição atuou em sintonia com o Executivo no combate à pandemia. Temos um governo e uma oposição responsáveis”, frisou Irazabal.

Lacalle Pou, do Partido Nacional, é assessorado por um pequeno comitê científico de especialistas e foi eficiente na busca de consensos com outros partidos e setor privado. Houve uma boa comunicação de risco, central em qualquer estratégia de contenção de uma pandemia, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

O sistema de seguro desemprego impediu a perda de postos de trabalho e garantiu às empresas e aos trabalhadores um panorama previsível durante os piores momentos da crise. Em Montevidéu não se observa, como em outras cidades latino-americanas, um aumento da pobreza em consequência da pandemia.